sexta-feira, 30 de abril de 2010

Suprema Vergonha Federal

Quando eu era criança, ouvia me dizerem: não faça o mal, que o bem é que era bonito, que é legal. Sempre pensava: será que existe algum lugar onde é o contrário?

Aldous Huxley criou um lugar onde as coisas são assim, invertidas. O seu romance O macaco e a essência se passa numa sociedade onde fazer o mal é que bom. Huxley era um tanto viosionário.

“Só o homem perdoa, só uma sociedade superior qualificada pela consciência dos mais elevados sentimentos de humanidade é capaz de perdoar. Porque só uma sociedade que, por ter grandeza, é maior do que os seus inimigos é capaz de sobreviver.”

Li isso e, arco reflexo, pensei no livro. O discurso acima - que poderia ter sido pronunciado por um personagem huxeliano - foi proferido Cezar Peluso, presidente do STF, em referência à arguição da OAB sobre a aplicabilidade da lei da anistia àqueles que praticaram crimes pela manutenção do regime de excessão.

Seria cômico se não fosse trágico.

Fico a pensar. Perdoar as torturas, os sumiços, os sequestros? Quem são os tais inimigos a que o presidente do Supremo se refere? Se perdoar aqueles que praticaram crimes contra a humanidade faz parte dos de mais elevados sentimentos manidade, quais serão os mais baixos?

O relator do processo foi o senhor Eros Graus, aquele que tirou o governo do Maranhão das mãos do governador eleito pelos maranhenses e o devolveu à oligarquia Sarney.

Com os votos contrários dos ministros Ayres Brito e Ricardo Lewandowski, o STF se posicionou a favor da tortura, do sequestro, dos estupros e todos os crimes contra humanidade cometidos pelos apoiadores do regime.


Os sete ministros que votaram com o relator nos deram mais um título desonroso: nós somos o único país da América Latina que não julgou inválidas essas anistias. Quem lembra esse recorde, não sem pesar, é Fábio Konder Comparato, o jurista que propôs a arguição. Ele vai além, classifica a decisão do STF de 'escândalo internacional'.

O fato de não encararmos esse problema tem consequências. Uma delas é que a prática de tortura por parte de autoridades policiais dificilmente são apuradas e via de regra ficam impunes.

Outra é que a OEA abriu uma denúncia contra o Estado brasileiro por desrespeito aos direitos humanos. Ironia perversa, as famílias que tiveram entes desaparecidos ou torturados, por serem contribuintes, pagarão a defesa desta nossa posição atroz diante das cortes internacionais.

Temeremos mais a miséria do que a morte!

Fechando abril, o mês da Jornada Nacional das Lutas pela Reforma Agrária, presto minha homenagem a José Maria do Tomé, e por extensão a todos que lutam e aos que morreram na luta pela reforma agrária.

O texto a seguir foi publicado no site do MST.

Assassinato de líder comunitário mobiliza movimentos contra o agronegócio no CE 29 de abril de 2010

Por Helena Martins

Em vez do silêncio, o canto. Canto embargado pela dor e pelo cansaço, mas fortalecido pelas muitas vozes que se juntaram às dos trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra. Ali, em meio ao acampamento do MST, em frente à sede Incra no Ceará, centenas de integrantes de movimentos sociais reuniram-se para homenagear o agricultor e líder comunitário José Maria, na data que marcava a passagem do sétimo dia de seu assassinato , no Sítio Tomé, localizado em Limoeiro do Norte, na divisa com o município de Quixeré, na Chapada do Apodi, interior do estado.




De mãos dadas, os participantes da celebração pactuaram: “nós decidimos. De agora em diante, temeremos mais à miséria do que à morte”. Com tal força, ressoaram as vozes, que do medo fez-se a confiança; da dor pela perda, a coragem para seguir na luta. Afinal, como lembraram o coro e os acordes dos violeiros, “não precisa ser herói para lutar pela terra, pois, quando a fome dói, qualquer homem entra em guerra”. Assim, multiplicaram-se Josés Marias, Dorothys, Franciscos, Margaridas. Todos eram os mártires de Carajás e de tantas outras batalhas, na insistência de lutar por um outro mundo, um outro projeto de desenvolvimento e de sociedade.

Sobre o asfalto preto transmutado em chão sagrado, foi celebrada a missa pelo padre Jéferson Carneiro da Silva, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), e por mais sete padres ligados aos movimentos sociais. Padre Jéferson conclamou a todos a “não esmorecer para manter de pé a luta em favor da vida” e a “ gritar que os pobres continuam sendo a classe privilegiada de Deus, apesar de os poderes humanos os relegarem a nada. Precisamos colocar de pé outra vez a voz dos que são massacrados e criminalizados”. E exaltou a importância da unidade na luta.

Ao ato religioso, seguiram-se pronunciamentos de lideranças dos movimentos, que destacaram a necessidade da apuração rigorosa do assassinato. Mas é preciso, ainda, impedir que José Maria morra pela segunda vez, deixando-se que chegue à morte a sua peleja. Por isso, Lourdes Vicente, integrante da Coordenação Estadual do MST, puxou o grito que ecoou por toda a avenida: “a cada companheiro tombado, nenhum minuto de silêncio, mas toda uma vida de luta!” Estava selado o compromisso de todos na continuidade do combate ao uso dos agrotóxicos e na defesa das comunidades tradicionais da região.

O Homem

“Se eu morrer, continuem a minha luta. Se fizerem isso, já terá valido a pena”, costuma dizer o ambientalista, conforme lembrou, emocionado, o trabalhador Ricardo Cassundé, que acompanhava as lutas de Zé Maria do Tomé, como era conhecido. Ele tinha 44 anos quando foi alvejado por 19 tiros, destruidores tal qual a matadeira usada contra trabalhadores que, em outros tempos, pelos sertões da Bahia, também tentaram resistir à opressão.

Sem Terra homenageiam militante
Nos últimos anos, foi presidente a Associação dos Desapropriados Trabalhadores Rurais Sem Terra da Chapada do Apodi e denunciou a desapropriação dos agricultores devido à implantação de grandes projetos de irrigação na região do Vale do Jaguaribe. Zé Maria também denunciava o uso de agrotóxicos e a pulverização aérea que, há dez anos, têm contaminado famílias, terras, animais e, sobretudo, a água da região.

“Ele estava descendo a serra, vindo de mais ações, como era tão comum em sua vida”, lamenta Ricardo, ao falar dos momentos anteriores ao assassinato. Dele não foi levada a moto, mas sim a pasta que continha documentos, fotos e outros materiais que comprovavam as denúncias que fazia. Essa é mais uma característica que fortalece as suspeitas de que tenha se tratado, de fato, de uma execução decorrida da atuação política do agricultor. A isto se soma o fato de que José Maria já vinha recebendo ameaças anônimas, que chegaram a ser registradas duas vezes por meio de boletins de ocorrência, de acordo os advogados que acompanham o caso.

A Terra

O professor José Ernani Mendes, da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano, localizada em Limoeiro do Norte, explica que a Região do Jaguaribe tem se caracterizado, nas últimas décadas, por um elevado nível de concentração de terra. “Na Chapada do Apodi, o projeto de fruticultura que vem sendo desenvolvido é um projeto marcadamente ocupado pelo agronegócio. Para se instalar lá, o agronegócio expulsou pequenos agricultores. Há estudos importantes, feitos por professores da universidade, constatando esse processo de concentração por parte das grandes empresas do agronegócio, que ocuparam, inclusive, terras da União”, detalha.

Junto ao agronegócio, chegou à região também o agrotóxico, que tem ameaçado a vida em todas as formas. Mendes explica que as empresas fruticultoras estão utilizando a pulverização aérea de forma indiscriminada, o que tem causado a contaminação da água que abastece a comunidade. Os produtos têm gerado irritações na pele e nos olho dos habitantes. “A gravidade da contaminação é verificada no aumento do número de casos de câncer na região, que já é alarmante”, afirma o professor.

A morte do líder comunitário traz à tona conflitos que não são novos. Já em 2008, funcionários da Fazenda Ouro Verde, propriedade da transnacional Del Monte Fresh Produce Brasil Ltda. localizada na Chapada do Apodi, paralisaram suas atividades e denunciaram as péssimas condições de trabalho às quais eram submetidos. Os trabalhadores da Del Monte, uma das maiores empresas do setor de produção e exportação de frutas instaladas o Brasil, tinham contato constante com os agrotóxicos, causando doenças em muitos deles.

A Luta

A morte do líder comunitário expõe à sociedade os conflitos que ocorrem há mais de uma década na Chapada do Apodi: a luta contra o agronegócio e o uso de agrotóxicos e em defesa dos trabalhadores que têm sido expulsos de suas moradias devido à chegada e à ocupação das terras por parte das grandes empresas. As denúncias levaram instituições como a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o Ministério Público, a Justiça Federal e diversas universidades a analisar os problemas na Chapada.

Apesar da perseguição, José Maria havia conquistado vitórias: ano passado, a Câmara Municipal de Limoeiro do Norte aprovou uma lei que proíbe a pulverização aérea. No entanto, a estudante de direito Maiana Maia, que acompanha o caso, explica que apesar da conquista popular, a pressão dos interesses econômicos e políticos levou o prefeito da cidade a apresentar um Projeto de Lei que, entre outras definições, propõe ser revogada a lei que proibira a pulverização por aeronaves."Diante da possibilidade desse retrocesso na luta, as comunidades pressionaram para que se realizasse uma Audiência Pública que tratasse especificamente do tema – pulverização aérea – com pesquisadores, integrantes do Ministério da Agricultura, do Ministério Público e da sociedade civil como um todo.", explica Maiana. A audiência ocorrerá, na Câmara de Limoeiro, no dia 12 de maio, e dela participarão diversos movimentos sociais.

Faixa

Essa luta agora será encampada por muitos outros Josés. Para o ambientalista e advogado João Alfredo, vereador de Fortaleza pelo PSOL, a morte de José Maria assemelha-se à de Chico Mendes e a de Irmã Dorothy, pois todos sabiam que iriam morrer, mas não desistiram da luta. “Por isso, a nossa obrigação é assumir essa luta do José Maria, a luta contra o sistema que explora os trabalhadores e destrói a natureza. Nós não deixaremos que calem essa voz”, garante Alfredo. “É hora dos movimentos se unificarem em torno da luta por mudanças estruturais no país”, defende Alessandro Nunes, assessor técnico da Cáritas Brasileira Regional. Assim, vão verter-se em verdade os dizeres da faixa exposta durante a missa em homenagem ao agricultor: “se me matarem, ressuscitarei na luta do meu povo”.

Crédito das fotos: Camila Garcia

terça-feira, 27 de abril de 2010

Miguel Carter: Lula optou por evitar atritos com a elite rural



Miguel Carter, professor da American University, deu entrevista ao portal Brasil de Fato e afirma que a estagnação nas políticas de reforma agrária reflete a derrota de um projeto progressista para o campo.

Entrevista a Eduardo Sales de Lima

Da redação

Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizam, neste mês, uma série de manifestações pela Jornada Nacional de Lutas por Reforma Agrária.

Os camponeses cobram o cumprimento dos compromissos assumidos pelo governo federal durante a jornada realizada em agosto do ano passado.

Na época, o governo se comprometeu a assinar a portaria que revisa os índices de produtividade e a investir R$ 460 milhões na desapropriação de latifúndios.

A atualização da portaria, no entanto, não ocorreu, e nem a destinação dos recursos para desapropriações e assentamento de famílias.

Para o professor da American University Miguel Carter, a estagnação nas políticas de reforma agrária reflete a derrota de um projeto progressista para o campo.


Para ele, o governo Lula tentou conciliar dois modelos agrícolas, mas sucumbiu à expansão do agronegócio, ao poder da bancada ruralista no Congresso Nacional e ao impacto dos grandes meios de comunicação no ataque à reforma agrária e seus defensores.

"Lula optou por evitar atritos com a elite rural. Manteve o status quo e limitou-se em apoiar uma reforma agrária conservadora - contida, reativa, feita sob pressão social, num processo administrativo lento e enrolado, que favorece a distribuição residual de terras", afirma.

Carter é organizador do livro: "Combatendo a Desigualdade Social: O MST e a reforma agrária no Brasil", que investiga as causas da desigualdade da estrutura fundiária brasileira e suas conseqüências, assim como as reações populares a essa situação.

Em entrevista ao Brasil de Fato, ele fala sobre os ataques dos setores conservadores contra a implementação da reforma agrária no país e os desafios para agregar mais força à luta dos camponeses.



BF Qual foi o significado dos dois mandatos do governo Lula para um projeto popular de reforma agrária?

MC O projeto em favor de uma reforma agrária progressista foi derrotado já no primeiro mandato do governo Lula. Foi a terceira grande derrota desse projeto na história do país. A primeira se deu com o golpe militar de 1964. A segunda com o fracasso do plano de reforma agrária lançado em 1985, no inicio da Nova República. A terceira se viu frustrada durante a presidência de Lula, eleito sob a promessa histórica do PT de impulsionar uma ampla redistribuição fundiária.

Essa derrota reflete, antes de tudo, uma correlação de forças muito adversa à realização de uma reforma agrária progressista. Essa reforma poderia ter utilizado diversos instrumentos legais para promover a agricultura camponesa e a transformação das relações de poder no campo. Segundo o Censo Agropecuário, a agricultura camponesa emprega 80% da mão de obra rural, produz a maior parte dos alimentos consumidos no Brasil, mas ocupa só um quarto do território agrícola no país. No entanto, o governo Lula manteve os enormes subsídios públicos voltados para o agronegócio, que recebeu sete vezes mais o valor oferecido aos pequenos agricultores.


O governo Lula achou que podia conciliar os dois modelos agrícolas. Mas herdou um Estado que há séculos vinha protegendo os interesses da elite agrária, de modo especial via o Poder Judiciário e as forças policiais. A esses obstáculos históricos, se soma a forte expansão do agronegócio na última década, a influência da bancada ruralista no Congresso Nacional, e o impacto dos grandes meios de comunicação no ataque à reforma agrária e seus defensores. Diante esse panorama, Lula optou por evitar atritos com a elite rural. Manteve o status quo e limitou-se em apoiar uma reforma agrária conservadora - contida, reativa, feita sob pressão social, num processo administrativo lento e enrolado, que favorece a distribuição residual de terras.



BF Você acredita que, atualmente, o MST consegue dialogar com mais ênfase junto aos setores urbanos, com a intelectualidade e os sindicatos?

MC O MST vem dialogando com vários setores urbanos desde a sua origem. Essas relações têm sido fundamentais para o desenvolvimento de sua organização e capacidade de articulação com um amplo leque de aliados. Esse trabalho é um desafio constante.

Além de estender seu apoio aos movimentos de sem teto, o MST poderia estreitar seus laços com as associações estabelecidas nas favelas. Juntos, esses grupos populares poderiam fortalecer a luta pelos direitos humanos, contra a violência, a discriminação racial e a marginalização social.

Outro espaço de articulação com o meio urbano poderia envolver os consumidores da classe média e alta preocupados com a qualidade de seus alimentos e a ecologia. O MST poderia pegar boas idéias de autores como Michael Pollan ("O Dilema do Onívoro") e criar redes alternativas de comercialização de produtos agroecológicos junto a essa população e, assim, promover solidariedade às suas lutas.

Em tudo isso, acho vital empunhar a bandeira do combate à desigualdade social como condição necessária para a democratização do Brasil.



BF A elite agrária brasileira, por meio da CPI contra o MST, com objetivos eleitoreiros, tem conseguido abafar o processo, ainda que lento, de implementação da reforma agrária no Brasil?

MC As três CPIs instituídas contra do MST e seus parceiros nos últimos cinco anos refletem um esforço sistemático da elite agrária e seus aliados em criminalizar os movimentos populares no campo e eliminar a reforma agrária da agenda pública nacional. Isso se dá num contexto de ofensiva do capital financeiro e internacional no campo brasileiro, com grandes aquisições de terra e elevados investimentos para produzir etanol, celulose, soja e outros commodities agrícolas voltados para o mercado global. A luta camponesa pela reforma agrária atrapalha o esforço dos empresários do agronegócio em ampliar seu estoque de terra. Trata-se de uma disputa territorial, de classe e de modelo de desenvolvimento.

As CPIs do Congresso contra o MST, junto com diversas ações do judiciário, Ministério Público e Tribunal de Contas da União, mostram como a elite agrária e seus aliados têm conseguido se apropriar de instrumentos democráticos, instituídos na Constituição de 1988, para frear a democratização do Brasil e impedir a extensão e exercício de direitos básicos de cidadania.



Miguel Carter é professor da American University, em Washington, DC. Ele é doutor em Ciências Políticas pela Columbia University de New York e organizador do livro: "Combatendo a Desigualdade Social: O MST e a reforma agrária no Brasil" (São Paulo: Editora da UNESP, 2010).







segunda-feira, 19 de abril de 2010

Lourdinha Lopes: a ocupação é a forma de valer o valor social da propriedade


Em outra postagem, disse que retornaria ao tema de ocupações irregulares. Eu entrevistei Loudinha Lopes, da Coordenação Nacional do Movimento Nacional de Luta pela Moradia, MNLM.

A questão da ocupação do espaço urbano em geral e a da moradia em específico têm papel destacado na compreensão do desastre humanitário que vive o Rio.

O PIG nos bombardeia com a versão burguesa da história e coloca a responsabilidade do desastre nos pobre que vão morar em áreas de risco. Essa ladaínha invade nossas casas diariamente.

Minha humilde contribuição para que uma visão diferente seja mostrada está nas linhas a seguir.

ENTREVISTA

Matus: Quais as principais bandeiras e reividicações do MNLM?

Lourdinha Lopes: O MNLM é um Movimento Popular com 20 anos de existência (julho deste ano) e raízes em 18 Estados.

Nossas grande bandeira é a Reforma Urbana sobre controle dos trabalhadores e trabalhadoras.

Acreditamos na urgência de um outro modelo de cidades baseado na vida e no acesso igualitário aos bens e serviços públicos essencias ao pleno desenvolvimento e manutenção da vida plena. Temos conciência de que esta nova cidade só se construirá e se constituirá na organização e mobilização daqueles que têm o seus direitos diariamente negados.

Temos na OCUPAÇÃO nosso principal instrumento de organização e pressão no sentido de alcançar a Função Social da Propriedade e o Direito Social Constitucional à Moradia Digna, assim como na Organização Cooperativa o desafio de construir novas relações sociais e a Autogestão Emancipatória;


A luta contra Despejos e Remoção perpassa todas as nossas lutas, especialmente a de Regularização Fundiária das Ocupações e "Assentamentos Precários". Entendemos Regularização Fundiária não como distribuição de Títulos, mais como um conjunto de medidas que garantam desde habitabilidade até a segurança na posse.

Neste sentido, estamos em luta pela construção do SNHIS (Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social) e SNDU (Sistema Nacional de Desenvolvimento Urbano), pelo cumprimento do que é avanço institucional no Estatuto da Cidade e pela destinação imediata dos imóveis públicos não utilizados ou mal utilizados, dotados de infraestrutura urbana para Habitação de Interesse Social (0 a 3 salários mínimos).

M: Qual é hoje aproximadamente o déficit habitacional do Rio e Grande Rio?

LL: O Défict quantitativo anunciado do Rio e Grande Rio é de cerca de 400 mil unidades. As autoridades não têm consenso nos números. O Movimento Popular não se atem a estes números especialmente em função dos critérios que as estatísticas adotam.

Este é um assunto que dá um livro. O Rio, como a quase totalidade do País não pautam suas políticas e programas pelo atendimento das necessidades e direitos, pautam pelo mercado e transformam serviços e bens essenciais em mercadoria, quem pode compra, quem não pode fica sem ou dá o seu jeito, guiado pelo instinto de sobrevivência e resistência à morte. É assim com a terra, com a habitação, com o transporte, com a cultura, com a saúde etc. e tal.


M: Qual é a opinião do MNLM sobre a política habitacional e de ocupação urbana no Rio e Grande Rio?

LL: Os empobrecidos do Rio recusaram-se a aceitar o destino imposto pelo Império e pela República, insistiram em sobreviver e inúmeros deles insistiram em permanecer no alcance das vistas "nobres e brancas", para garantirem suas sobrevivências.

As ocupações do solo em situações precárias foi a forma de estar em algum lugar, já que estavam vivos.

Nenhuma intervenção pública nos assentamentos precários, considerou um processo integrado e integral de Regularização Fundiária, todos ocorreram de forma pontual, casuísta, sem participação popular, sem considerar a comunidade envolvida, suas necessidades e saberes.

Muito dinheiro foi e continua sendo investido, para garantir interesses outros que não o direito á Moradia Digna, pode situar aí os maiores Programas como o Favela Bairro e o PAC.



M: Em que medida pode-se relacionar os desastres humanitários que seguem as fortes chuvas no Rio - como o que dessa semana - com a gestão política deste espaço urbano?

LL: Os desastres vem nesta esteira. A identificação de áreas de riscos e de preservação ambiental sempre foram um mero artifício para "limpeza urbana". Uma identificação séria tem que estar embutida no processo de Regularização com urbanização, envolvendo a comunidade e os mecanismos institucionais de participação já conquistados. É fácil criminalizar mais uma vez as vítimas, declarando que elas buscaram a morte. O difícil são os Governantes romperem com suas ideologias mercantilistas, especulativas, discriminatórias e excludentes.

Neste momento em que o Rio sofre com a perda de vidas, precisamos transformar nossa indignação em luta organizada, com o firme próposito de desmercantilizar nossos Direitos.

No Centro do Rio de Janeiro e de Niterói têm inúmeros imóveis vazios e em grande parte públicos, são neste imóveis que os mais de 8 mil desabrigados tem que morar.
É humano, é sensato, é econômico.


M: Que mensagem vocês gostariam de deixar para o internauta?

LL: É preciso lutar, é possível vencer!

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Nota do MST sobre propostas da presidente da CNA 13 de abril de 2010



A senadora Kátia Abreu, do PFL*, é contra as invasões e ocupações do MST, mas só as do MST, as invasões dos usurparores da UDR ela apoia e promove.

E também é contra a destinação de verbas da União para o MST, mas para os sinhozinhos da UDR ela é a favor.

A UDR pediu ao Ministério da Justiça que seja mais duro na repressão a movimentos sociais como o MST.

O MST respondeu com a nota a seguir.

Nota do MST sobre propostas da presidente da CNA 13 de abril de 2010
As propostas feitas nesta terça-feira (13/4) pela presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), pretendem mais uma vez criminalizar as lutas sociais e impedir o avanço da Reforma Agrária.

A senadora não apresenta nenhuma proposta para resolver os problemas das 4 milhões de famílias pobres do campo e das 90 mil famílias acampadas em todo o país. No entanto, suas medidas buscam proteger da Lei Agrária cerca de 15 mil fazendeiros com mais de 2 mil hectares, que controlam nada menos do que 98 milhões de hectares.

Em relação as ocupações de terras, a senadora Kátia Abreu deveria dar um exemplo e devolver duas fazendas de 2.500 hectares, no município de Campos Lindos (TO), que ela invadiu depois de um golpe contra camponeses, em 2002 .

Além disso, a senadora, que quer aparecer porque sonha em ser vice do candidato a presidente José Serra , deveria saber que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, líder dos tucanos, assinou um decreto que institui o 17 de abril como Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária . Ou seja, é um direito lutar pela Reforma Agrária neste país.

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*Nunca chamarei um partido político que apoiou a ditadura de 'democratas'. No máximo, chamarei suas ações de demoníacas.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Parabéns à Revolução Bolivariana

Caracas está em festa. Compartilho com vocês minha felicidade pelo que vivem nossos irmãos venezuelanos.

Esta semana celebra-se a vitória contra o golpe fascista de abril de 2002. Pela prineira vez na história de nosso continente, as forças populares reverteram um golpe fascista, resgataram a democracia e retomaram as rédeas de seu destino. Tio San está até agora engasgado com essa espinha.

Lembro-me daqueles dias, da péssima cobertura que a mídia burguesa brasileira deu ao eventou. Na noite que o Jornal da Globo - acho que foi o Willian Waak - noticiou o retorno de Chavez ao Miraflores eu me convenci de que outro mundo é possível.

No país vizinho, um processo revolucionário está em curso.

Assisti a alguns vídeos no Aporrea. Embora os vídeos tenham a marca da TeleSur, não os achei no portal da emissora.

Infelizmente não consegui inserir o vídeo em si, terei que deixá-los com o link.

Espero poder apresentá-los em outra oportunidade.

Nos vídeo, podemos ver porque o PIG odeia Hugo Chavez. O povo está armado para defender a Revolução de seus inimigos internos e externos.

Meu amigo Emerson está lá e manda algumas informações. Em breve, espero poder contar para vocês detalhes da viagem dele à Venezuela. Até, seguem umas fotos.

Salve o dia 13 de abril.




O brilho eterno de Vladimir Maiakovski


A oitenta anos atrás, o mundo perdia um gênio. No dia 14 de outubro de 1930, poeta russo Vladimir Maiakovski interrompeu sua vida.

Maiakovski foi comunista de primeira hora. Apoiou a Revolução Bolchevique, trabalhou para os Correios Soviéticos e para a propaganda bolchevique antes e depois da Revolução de Outubro de 1917, escrevendo e desenhando.

A partir de 1926, Maiakovski e os dirigentes soviéticos passaram a divergir sobre o rumos das artes. No entando, tais divergências nunca alcançaram a essência do homem comprometido com a luta contra o capitalismo.

Seus cartazes abaixo dispensam tradução.




Em 1994, minha mãe participou da organização de um evento pela candidatura de Lula. A atividade reuniu muitos artistas de Santa Teresa, bairro onde cresci. Eu fiquei encarregado da filmagem. Teve uma poeta que entrou no palco sem estar na programação. Fiquei muito triste por não conseguir ligar a câmera a tempo. Ela recitou Maiakovski.

Anos mais tarde encontramos a fita. A sensação foi a mesmo de quando eu tinha 14 anos. Que raiva! Peguei o poema pela metade.

Mais alguns anos e eu tive novo contato com o mesmo poema. Olga, Camila Morgado, recita Maiakovski enquanto é torturada pelos nazistas no filme de Jayme Monjardim. Brilhar pra sempre, recita como uma oração onde ela pede forças.

A EXTRAORDINÁRIA AVENTURA VIVIDA POR VLADÍMIR MAIAKOVSKI NO VERÃO NA DATCHA
(Púchkino, monte Akula, datcha de Rumiántzev, a 27 verstas pela estrada de ferro de Iaroslávl)

A tarde ardia com cem sóis.
O verão rolava em julho.
O calor se enrolava no ar e nos lençóis da datcha onde eu estava.
Na colina de Púchkino, corcunda, o monte Akula,
e ao pé do monte a aldeia enruga a casa dos telhados.
E atrás da aldeia, um buraco e no buraco, todo dia, o mesmo ato:
O sol descia - lento e exato.
E de manhã, outra vez, por toda a parte lá estava o sol escarlate.
Dia após dia isto começou a irritar-me terrivelmente.
Um dia me enfureço a tal ponto que, de pavor, tudo empalidece.

E grito ao sol, de pronto:
- Desce!!! Chega de vadiar nessa fornalha!
E grito ao sol:
- Parasita! Você, aí, a flanar pelos ares, e eu, aqui, cheio de tinta, com a cara nos cartazes!
E grito ao sol:
- Espere! Ouça, topete de ouro, e se em lugar desse ocaso de paxá você baixar lá em casa para um chá?

Que mosca me mordeu!? É o meu fim!
Para mim sem perder tempo o sol alargando os raios-passos avança pelo campo.
Não quero mostrar medo.
Recuo para o quarto.
Seus olhos brilham no jardim.
Avançam mais.
Pelas janelas, pelas portas, pelas frestas, a massa solar vem abaixo e invade a minha casa.

Recobrando o fôlego, me diz o sol com voz de baixo:
- Pela primeira vez recolho o fogo, desde que o mundo foi criado.
Você me chamou? Apanhe o chá, pegue a compota, poeta!
Lágrimas na ponta dos olhos – o calor me fazia desvairar - eu lhe mostro o samovar:
- Pois bem, sente-se, astro!

Quem me mandou berrar ao sol, insolências sem conta?
Contrafeito, me sento numa ponta do banco e espero a conta com um frio no peito.
Mas uma estranha claridade fluía sobre o quarto e esquecendo os cuidados começo pouco a pouco a palestrar com o astro.
Falo disso e daquilo, como me cansa a Rosta, ect.

E o sol:
- Está certo, mas não se desgoste, não pinte as coisas tão pretas.
E eu? Você pensa que brilhar é fácil?
Prove, pra ver! Mas quando se começa é preciso prosseguir e a gente vai e brilha pra valer!

E o sol, por fim:
- Somos amigos pra sempre, eu de você, você de mim. Vamos poeta, cantar, luzir no lixo cinza do universo.
Eu verterei o meu sol e você o seu com seus versos.
Conversamos até a noite ou até o que, antes, eram trevas. Como falar, ali, de sombras?

Ficamos íntimos, os dois. Logo, com desassombro, estou batendo no seu ombro. O muro das sombras, prisão das trevas, desaba sob o obus dos nossos sóis de duas bocas.
Confusão de poesia e luz, chamas por toda a parte.
Se o sol se cansa e a noite lenta quer ir pra cama,
marmota sonolenta, eu, de repente, inflamo a minha flama e o dia fulge novamente.

Brilhar pra sempre, brilhar como um farol, brilhar com brilho eterno, gente é pra brilhar, que tudo mais vá pro inferno, este é o meu slogan e o do sol!!!!


1920
Maiakovski (trad. Augusto de Campos)

Datcha - casa de veraneio.2. Versta - medida itinerária equivalente a 1,067m.3. Rosta - A Agência Telegráfica Russa, para a qual Maiakovski executou cartazes satíricos de notícias - as "janelas" Rosta -, de 1919 a 1922.

terça-feira, 13 de abril de 2010

O direito à verdade e à memória


Entrei em contato com a OAB-RJ sobre o importantíssimo coso que será julgado hoje pelo STF: a arguição da OAB sobre a abrangência da Lei de Anistia aos torturados da ditadura.

A seguir a resposta.


"Essa tortura precisa acabar"

Lei de anistia acoberta crimes de tortura? -- Amanhã, o Supremo Tribunal Federal vai julgar ação proposta pelo Conselho Federal da OAB sobre a amplitude da Lei de Anistia. A entidade sustenta que a Lei da Anistia, aprovada em 1979 não abrange os responsáveis por crimes de tortura cometidos no regime militar, o que permitiria que ainda hoje eles fossem julgados. O relator do caso é o ministro Eros Grau.

Por entender que a anistia não abrange os crimes de tortura, a OAB lança nesta sexta-feira a campanha pela Memória e pela Verdade.

"Queremos, com o resgate de lacunas de nossa história, promover a reconciliação nacional com nosso passado, sem qualquer intuito revanchista", afirma Wadih Damous, presidente da OAB do Rio de Janeiro.

Na ação, a OAB contesta o artigo 1º da Lei da Anistia, defendendo uma interpretação mais clara quanto ao que foi considerado como perdão aos crimes conexos “de qualquer natureza” quando relacionados aos crimes políticos ou praticados por motivação política.

Segundo a Ordem, a lei “estende a anistia a classes absolutamente indefinidas de crime” e, nesse contexto, a anistia não deveria alcançar os autores de crimes comuns praticados por agentes públicos acusados de homicídio, abuso de autoridade, lesões corporais, desaparecimento forçado, estupro e atentado violento ao pudor, contra opositores ao regime político da época.

Campanha pela abertura dos arquivos -- Fernanda Montenegro, Glória Pites, José Mayer e Osmar Prado gravaram ontem, no estúdio Walter Avancini, no PoloRio Cine e Vídeo, suas participações na Campanha pela Memória e pela Verdade, organizada pela OAB/RJ, que será lançada nesta sexta-feira, dia 16, no Salão Nobre da Seccional. Depois de se identificarem como um desaparecido político, os atores lembram o desespero das famílias e encerram suas falas com a frase "essa tortura precisa acabar".

Os atores interpretam, respectivamente, os desaparecidos políticos Sonia Angel, Eleni Guariba, David Capistrano e Maurício Grabois, em filmetes de 30 segundos de duração, que irão ao ar gratuitamente em diversas emissoras de televisão [será legal ver a Globo exibindo os vídeos, logo ela que disse que "A democracia foi restabelecida" nos primeiros dias de golpe] e em cinemas da cidade, a partir do dia 16, cobrando a abertura dos arquivos da repressão política ditadura militar.

Os atores Eliane Giardini e Mauro Mendonça também gravaram para a campanha, na semana passada. Os dois vivem os papéis de Ana Rosa Kucinski e Fernando Santa Cruz, ambos desaparecidos no ano de 1974. Nenhum dos atores cobrou cachê para interpretar os personagens que, mesmo desaparecidos, defendem o direito dos seus familiares de conhecerem o que, de fato, lhes aconteceu e quem são os responsáveis pelas mortes e pelos desaparecimentos de centenas de pessoas.

Verdade e memória -- Com a campanha pela Memória e pela Verdade, O OAB/RJ busca sensibilizar a sociedade e o Poder constituído, assim como mobilizar líderes políticos, personalidades do meio artístico, instituições democráticas, jovens e militares, a pedirem a abertura dos arquivos políticos da ditadura militar.

A OAB/RJ entende que só assim a verdade, enfim, será exposta à luz depois de mais de 30 anos, tornando-se um antídoto definitivo para que o Brasil jamais passe novamente pela dolorosa e odiosa experiência do arbítrio e da tortura.

A partir do dia 16, a fachada e a empena lateral da sede da Seccional serão revestidas com imensos banners sobre a campanha, perguntando: "Será que essa tortura nunca vai acabar?". Cartazes e adesivos serão afixados nas subseções e salas de advogados nos fóruns do estado e distribuídos nas universidades, sindicatos e organizações da sociedade civil – algumas há muitos anos engajadas na busca de informações sobre as vítimas da ditadura – que queiram se integrar à campanha.

Os ônibus da OAB/RJ que circulam na capital e nos demais municípios também exibirão, na parte traseira, o chamado à participação por meio de busdoor. Na internet, no site da OAB/RJ – e das entidades que queiram participar – haverá um link para assinatura do manifesto pela abertura dos arquivos e para assistir às peças produzidas para a televisão.

PIG e torturadores, relação íntima íntima e antiga

Compartilho com vocês matéria publicada no A Verdade.

A matéria é oportuna não só pelo tema mas, principalmente, porque esta semana o STF votará a arguição de Fabio Konder Comparato sobre se a lei de anistia contempla ou não os torturadores da ditadura.

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Brasil : Torturadores e grande mídia contra os direitos humanos
em 19/02/2010

No dia 21 de dezembro de 2009 por meio do decreto nº 7.037 foi aprovado o Terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos, o PNDH3. Desde então, esse plano vem sofrendo diversos ataques por parte da direita em todo o país.

A razão para isso é clara: esse é o PNDH mais avançado já aprovado pelo Governo Federal, pois foi fruto de diversas conferências e discussões entre os movimentos sociais e a população. O projeto avança em diversos eixos, aprofundando o debate dos direitos da mulher e prevendo além de medidas educativas com relação à sexualidade, a legalização do aborto, por exemplo, e trata da taxação das grandes fortunas, prevista na Constituição de 1988, mas nunca regulamentada.

Os comandos militares se articularam imediatamente e pressionaram para que fosse retirada do texto a expressão “repressão política”. O ministro da Defesa, Nélson Jobim, alinhou-se com eles e ameaçou renunciar ao cargo juntamente com os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, caso não houvesse a alteração. O presidente Lula recuou e a expressão foi substituída por conflitos políticos, no trecho que determina a instituição da Comissão Nacional da Verdade, para examinar as violações de direitos humanos no contesto da repressão política.

Dito desse modo, colocam-se em pé de igualdade os agentes da ditadura militar e os militantes de esquerda que lutaram contra ela, o que é um absurdo. Como expressa o chargista Latuff, em Carta Capital, nº 579, janeiro/2010: “Militantes de esquerda: presos, torturados, desaparecidos, executados. Militares torturadores: não foram presos, não foram torturados, não tiveram desaparecidos, não foram executados”. E então? Desabafa o jurista Fábio Konder Comparato, professor emérito da USP: “Seguindo seus hábitos consolidados, o presidente resolveu abafar as disputas e negociar um acordo. Ele esqueceu-se, porém, de que nenhum acordo político decente pode ser feito à custa da dignidade da pessoa humana”.

Mas outros pontos do decreto provocam o repúdio da burguesia e da grande mídia. O projeto avança principalmente na questão da liberdade de imprensa, entendendo que democracia passa por impedir o monopólio das comunicações, no tratamento às questões relativas à luta por terra e reforma agrária e à questão do direito à memória, à verdade e à justiça.

Vamos aos ataques: a imprensa anda dizendo que a censura vai voltar, que querer punir os torturadores é revanchismo, que na verdade o plano é um “roteiro para a implantação de um regime autoritário” (editorial do Estadão) de “comunistas” para “invadirem terras” e não serem punidos por seus “crimes” durante a ditadura militar.

Mas como a criação de um marco legal que estabelece que o respeito aos Direitos Humanos nos serviços de rádio e televisão é condição para sua renovação e continuidade pode voltar com a censura ao país? Como avançar na regularização das rádios comunitárias e promover incentivos para que se afirmem pode trazer de volta a censura ao país? Como facilitar o acesso de pessoas com deficiência sensorial à programação em todos os meios de comunicação e informação pode fazer a censura voltar ao país?

Como incentivar a produção de filmes, vídeos, áudios e similares, voltada para a educação em Direitos Humanos e que reconstrua a história recente do autoritarismo no Brasil pode voltar com a censura ao país?

Será que na verdade censura não é o que se vê hoje: de um lado os grandes meios de comunicação controlados pela burguesia e de outro as iniciativas alternativas de imprensa popular como rádio favela, panfletos e o próprio jornal A Verdade que lutam contra a repressão e as dificuldades financeiras para se manterem firmes dia após dia?

O Plano nem ao menos cita a Reforma Agrária e os latifundiários já fazem todo esse barulho?! Será que criar um marco legal para a prevenção e mediação de conflitos fundiários urbanos, garantindo o devido processo legal e a função social da propriedade ou propor um projeto de lei destinado a regulamentar o cumprimento de mandados de reintegração de posse muda muita coisa na questão latifundiária no país?

Pelo direito à memória e à verdade

E o mais importante: que crime cometeram aqueles que lutaram contra a ditadura militar? O crime de sonhar com liberdade, com um mundo melhor e mais justo? De pegar em armas e dar suas vidas pela realização desse sonho? E quantos aparelhos de tortura esses jovens criaram? Quantas mulheres eles estupraram? Quantos corpos escondidos são de sua responsabilidade?

E desde quando cobrar que os responsáveis por um crime sejam punidos é revanchismo? É revanchismo punir assassinos? Torturadores? Estupradores? Sequestradores? É revanchismo querer saber mais sobre a história de seu país ou sobre a participação de um ente querido nela? Saber quem matou, porque não foi possível enterrá-lo e querer que os culpados sejam julgados?

A Comissão Nacional da Verdade proposta no Plano é mais um fruto da luta que vem arrancando vitórias desde 1982 com o pedido de apuração da Guerrilha do Araguaia, passando por 1995 com a Lei no 9.140/95, pela Medida Provisória no 2151-3 de 2001 que virou a Lei no 10.559 em 2002, chegando à condenação da União em 2003, à entrega dos arquivos da ditadura em 2005 e à ação civil contra militares em 2008, que nada mais são que ações de acordo com o art. 8o do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da Constituição de 1988, que previa a concessão de anistia aos que foram perseguidos em decorrência de sua oposição política.

A luta pela punição dos torturadores não é uma luta nova, muito menos uma luta que se baseia só no passado, mas também no presente, visto que essas práticas continuam a existir em nosso país. É a luta para viver em um país em que a tortura não seja impune, o assassinato não seja impune, o estupro não seja impune, a estupidez não seja impune. Um país em que essas ações não sejam respaldadas pelo governo.

Manifestações se espalham no Brasil

Diante da reação dos setores conservadores, especialmente, dos latifundiários e do agronegócio, e dos ataques da mídia, as entidades da sociedade civil e os movimentos pelos direitos humanos reuniram-se em vários estados. Em Minas Gerais, a reunião ocorreu no Sindicato dos Jornalistas e contou com cerca de 80 pessoas, que debateram promover uma campanha de esclarecimentos e defesa do PNDH 3 e pressionar o governo federal para respeitar a proposta, sem alterações no conteúdo de seu texto.

Manifestações em defesa do PNDH3 têm ocorrido em todo o país, como em Goiás, Rio e São Paulo, no dia 14 de janeiro. No dia 15 foi a vez de Belo Horizonte, com diversas entidades reunidas na Praça Sete, para divulgar o Plano e esclarecer a população sobre os ataques da mídia. O Movimento em Minas também lançará um manifesto em defesa da Comissão Nacional da Verdade e mantém um fórum permanente de discussões e encontros para debater o tema.

Líderes civis e religiosos têm participado desses atos, a exemplo do vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, Marcelo Zelic, que disse: “Lula recuou num assunto em que não se pode dar um passo sequer atrás. Se ele (o presidente) não cuidar bem desse anteprojeto, não só pode fazer um movimento errado dentro do governo como aumentar ainda mais a sensação de impunidade que já é grande nesse país”. José Augusto Camargo. Presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, declarou: “Essa reação contrária só demonstra a intransigência de certos grupos em debater o tema”. Enfatizando a questão da perseguição religiosa no Brasil, a diretora do Departamento de Matrizes Africanas, afirmou que qualquer apoio a “atos sombrios” pode aumentar a violência, e acrescentou: “Acredito que Lula está tomando decisões como presidente e não no papel de cidadão. Porque se ele tivesse uma pessoa desaparecida ou torturada na família, certamente não recuaria um milímetro sequer para trazer a verdade à tona”.

Várias manifestações ainda deverão ocorrer, e o que fica claro após tanto escândalo diante do Plano é que os verdadeiros avanços sociais: Reforma Agrária, educação para todos, democracia para os trabalhadores, só serão conquistados com a luta do povo.

Luanna Grammont e Redação

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Chuva + más gestões = inundações


Infelizmente, fiquei sem rede ontem, dia da enchente. Hoje, leio as informações dos portais e as opiniões dos blogueiros. Continuo com o mesmo pensamento que já expressei em postagem anterior: o problema é menos o temporal que a péssima administração do espaço urbano, marca das seguidas prefeituras cariocas.

Se a população em geral tem o péssimo hábito de jogar lixo nas ruas, quem tem a obrigação de ensinar o contrário e fiscalizar que se cumpra são os órgãos públicos.

Não vejo campanhas ou fiscalização sobre a questão do lixo nas ruas. Por um lado, educação - outdoors, vídeos, anúncio nos jornais etc. - sobre a relação cidadania, lixo nas ruas e enchentes. Por outro lado, não vejo uma ação que coíba a propaganda por filipetas, por exemplo. Esses pedacinhos de papel que servem para divulgar festas, espetáculos, agiotas, prostíbulos, etc. são distribuídos abertamente pelas ruas e vão parar no chão a menos de três passos de quem está distribuindo.

Outra prática corriqueira e que é de fácil fiscalização é o sujeito que joga lixo da janela dos veículos. O código de trânsito já arbitra sobre o assunto, é questão de fiscalização. É como o cinto de segurança, foi preciso muita multa para que 'a lei pegasse'. É como a questão do álcool no trânsito, os números têm melhorado por causa das fiscalizações.

Para completar o desastre, soma-se a isso as ocupações irregulares, as galerias que não dão vazão, a falta de momitoramento das encostas e as ligações irregulares de esgoto, ou seja, problemas políticoadministrativos.

Dentre esses, as ocupações irregulares são o que dá mais assunto. Esse tipo de desastre vitimiza principalmente os mais pobres, que moram irregularmente em áreas de risco. Neste caso, vale o conhecimento popular, é melhor prevenir do que remediar. Mas o poder público parece preferir remediar: muito se fala em remoção de pessoas de áreas de risco e quase não se fala em política de habitação. Terei oportunidade de retornar a este tema em outra ocasião.

No mais, quem fez uma boa análise dos problemas que vivemos no Rio e Grande Rio no início da semana foi Brizola Neto, no Tijolaço. Com destaque para as postagens Chuva e concessionárias fazem dia terrível no Rio e A nota zero de Paes não inclui a Prefeitura?.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Finalmente a imprensa brasileira se assume como partido


Obama disse logo no começo do seu mandato daria à Fox o tratamento dado à oposição. O motivo de tratamento diferencial à emissora de Rupert Mundoch é que a Fox é uma extensão do Partido Republicano, e deve ser tratado como tal.

Aqui, Lula celebra eleição com entrevista exclusiva ao casal Bonner.

O PIG fez oposição ao governo Lula nos dois mandatos. Tomou partido nas eleições 2002 e 2006, como demontrou Kjeld Jacobson no artigo A cobertura da mídia impressa aos candidatos nas eleições presidenciais de 2006, no livro A mídia nas Eleições 2006. E não podemos esperar outra coisa nas eleições 2010.

Jacobson não analisou o comportamento da revista Carta Capital em sua pesquisa. Motivo: foi a única revista de circulação nacional que deixou explícito em seus editoriais que era favorável ao petista. Isso não é nenhum mérito, é honestidade com o leitor. Demérito é vender imparcialidade tendo lado claro, isso é desonestidade. Mas, compra quem quer.

A novidade nas eleições deste ano é que Maria Judith Brito, presidente da Associação Nacional dos Jornais - em outras palavras, o Comitê Central do PIG - declarou-se oposição ao governo federal. Embora isso não clareia muita coisa porque ela falou como diretora da ANJ e não como executiva da Folha de São Paulo. Ou seja, os jornais do PIG vão continuar posando de imparciais mesmo fazendo campanha para os tucanos.

Qual será o papel do PIG nas eleições 2010? Marcos Coimbra, pesidente do Vox Populi, se perguntou isto na eleição passada (A mídia teve algum papel nas eleições 2006? ). Pela sua análise, todo o trabalho do PIG rendeu 7% dos votos nacionais para Alckmin. Esse é o destino dos canditatos da direita, ficarem na casa dos 30%, é o tamanho da UDN.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A carne mais barata do mercado é carne negra


A postagem Não existe racismo no Brasil gerou uma certa polêmica. O cerne da discussão foi acerca de quem ocupa o centro do problema, se é o racismo ou se é a desigualdade social.

Bem, no meu entendimento, o capitalismo é excludente e no caso do Brasil, exclui mais os negros. Na Bolívia, os indígenas. No Canadá, os inuits.

Claro que a pobreza é um problema, que a desigualdade tem que ser combatida. A questão que eu levanto é que temos que tratar os iguais como iguais e os diferentes como diferentes.

Se o capilismo é cruel, no Brasil, é a população negra que está sujeita aos seus piores caprichos.

Com a palavra, Brizola Neto. Os grifos são meus.

A morte é pobre, é jovem, é negra, é dor
terça-feira, 30 março, 2010 às 16:43

Tomei agora conhecimento dos números do “Mapa da Violência”, uma análise das mortes por homicídio no Brasil de 1997 a 2007.
A notícia boa é de que a redução da pobreza, se não resolve, ajuda a mitigar esse drama. De 1997 a 2003, a taxa de homicídios no país cresceu na faixa de 5% ao ano, atingindo o pico de 28,9 assassinatos para cada 100 mil habitantes em 2003 – com 51.054 mortos. Depois disso, o índice caiu em 2004 (27) e 2005 (25,8), voltou a subir em 2006 (26,3) e alcançou seu menor patamar em 2007, com 25,2.
A ruim é que a morte, além de pobre, continua sendo negra e jovem.
O número de pessoas brancas vítimas de homicídio caiu de 18.852 para 14.308, uma queda de 20,1%. Mas o de negros aumentou de 26.915 para 30.193, um crescimento de 12,2%. Há oito anos, morriam 46% mais negros que brancos, em 2007 essa diferença foi para 108%.
Em 1980, a cada 100 mil jovens, entre 15 e 24 anos, 30 deles morriam por homicídio em 1980, o número aumentou para 50,1 em 2007.

Pobreza, juventude, cor. Posto aí em cima o poema “A Morte do Leiteiro”, lida pelo próprio Carlos Drummond de Andrade, que faz pensar sobre nossa rotina, antiga e dolorosa, de violência.

Papo na feira

Almocei na Feira de São Crstóvão ontem e conversei com dois trabalhadores de lá.

Perguntei se eram do Rio, se votavam aqui. Um disse ser da Baixada, o outro disse ser de Pernambuco e que não transferira o título, por isso não vota aqui.

Em seguida perguntei em quem votariam. O que disse ter o título no Rio não titubeou:

- Serra.

O outro disse que votaria em Dilma se fosse votar. Perguntei ao 'serrista' sobre Dilma.

- Não voto nela.

- O que você acha do governo Lula, perguntei na sequênca.

- Muito bom, disse o 'serrista'.

Fiquei curiosíssimo. Perguntei por que ele não votaria na candidata do Lula se aprovava o governo Lula. O 'serrista' não titubeou:

- Dilma é a candidata do Lula? Ah, então eu voto nela.