sexta-feira, 26 de março de 2010

Não existe racismo no Brasil


Recebi o texto Olha o outro lado da moeda aí do meu amigo Eber.

O texto é do blogueiro Marcelo Migliaccio, que assina o blog Rio acima.

Nele, Migliaccio trata da diferença na abordagem sobre recentes episódios com o humorista Leandro Hassum e os jogadores Adriano e Vagner Love. Os três apareceram recentemente nos jornais por envolvimento com traficantes.

De um lado, dois negros, de origem humilde que mantêm amizade com traficantes de favelas. Do outro, comediante global branco, cujo pai está preso (julgado e condenado) por trafico de drogas.

Quero registrar que eu não tenho nenhum interesse em explorar o fato de essas pessoas terem qualquer relação com traficantes. Nem me agrada o fato de a mídia explorar essas relações. Nenhum dos três têm poder sobre as opções das outras pessoas, ninguém tem esse poder e não é fato de eles serem celebridades que lhes tornaria diferentes.

Pelo contrário, penso que Adriano, Vagner Love ou Hassum passam um momento difícil. Inclusive lamento a exploração que esses fatos vêm sofrendo. Mas esse é o mundo que vivemos, essa é a mídia que temos, esses são os mecanismos e métodos por ela utilizados. Transforma-os em celebridades e explora suas fraquezas. Não é zorra total, é a vida como ela é.

Feitas essas considerações, vamos a outros fatos.

Fiquei curioso com a distinção de cobertura entre os casos tão similares. Fiz uma pesquisa na rede.

Ontem, às 17h, digitei isoladamente cada umas das palavras 'Adriano', 'Vagner Love' e 'Leandro Hassum' em dois portais de grandes emissoras, o G1 (Globo) e o R7 (Record) e no Google.

Eis os resultados


Obs.1: No caso da pesquisa no Google, solicitei que a 'pesquisa avançada' fosse feita com os nomes mas apenas nos últimos trinta dias.

Em seguida, fiz outra pesquisa. Digitei os mesmos nomes acrescidos de 'traficante', sem restringir que os nomes e a palavra 'traficante' tivessem que vir juntas, apenas na mesma página.

Eis os resultados

Obs.1: No caso da pesquisa no Google, solicitei que a 'pesquisa avançada' fosse feita com os nomes mas apenas nos últimos trinta dias

A sociedade brasileira é extremamente racista e isso pode ser visto e medido nesses pequenos detalhes.

Vamos ao Migliaccio.

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Olha o outro lado da moeda aí
18/03/2010 - 09:14 | Enviado por: Migliaccio

Vejam só como são as coisas:

Um jornal aqui do Rio publicou no alto da primeira página que o pai de um conhecido comediante foi preso por tráfico de drogas.

O tom da manchete, no entanto, é bem diferente daqule dedicado aos dois jogadores de futebol, negros e nascidos em favelas.

Agora, o jornal é paternal, quase choroso, afinal o humorista é branco e de classe média, ao que se saiba nunca morou numa favela. Merece, portanto, ser exposto da forma mais respeitosa possível.

"Fulano vive um drama com o pai preso por tráfico", diz o jornal (que, como sua nave-mãe, também tem nome de biscoito-que-se-come-na-praia). Aqui é drama; com os atletas é banditismo mesmo.

E segue o subtítulo: "ele diz que se afastou do pai 'por causa de problemas'". Vejam bem, nesse caso a palavra dele vale. Vágner Love também disse que nâo tem ligação com o tráfico, mas isso não valeu de nada. Disseram até que o jogador era "escoltado" por traficantes armados, embora a imagem não dê margem a essa conclusão.

O humorista, que faz boa parte do Brasil rir todos os sábados, certamente não será chamado a depor na delegacia pelo delegado que convocou Adriano e Vágner Love. Ele disse ao jornal que nâo vê o pai há seis anos e isso basta.

Aliás, nem teria por que ser chamado mesmo

No final das contas, ele terá sido vítima apenas da coluna de fofoca do jornal. Embora cuidadosa e cheia de dedos na abordagem, a Candinha de rapina não deixou de expô-lo. Não iria perder esse filé.

Está implicito para nossa sociedade preconceituosa que o ator nada tem a ver com os infelizes negócios do pai. Ninguém tem dúvidas disso. Seu sigilo telefônico não será quebrado, como será o de Adriano, que, em tese, tem direito de presentear quem bem entender, mesmo uma mulher cujo filho é acusado de tráfico. Esse é o estado de direito.

Ser mãe de traficante significa muito quando o assunto é a moto dada por Adriano. Mas ser filho de traficante não significa nada quando está em questão o humorista.

Os jogadores terão que se explicar na delegacia, apesar de a lei dizer que o ônus da prova cabe a quem acusa.

Uma leitora deste blog citou também os casos de dois galãs de novela presos comprando drogas. Foram tratados como vítimas que precisam de ajuda. E são mesmo, excelentes pais, inclusive. Mas vale lembrar que nem Adriano nem Vágner Love foram flagrados em antidoping... e no entanto estão sendo apedrejados. Para os galãs, apareceram tiras compreensivos.

Bom, as coisas são assim...

Aos que disseram que defendo marginais, recomendo um curso urgente de alfabetização, porque este não é um debate policial, mas sobre os limites éticos e legais da imprensa.

Só para encerrar, como disse o leitor ZFlash, que conheço como o Dean Martin da Rua do Russel, sou tricolor e não rubro-negro.

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