quarta-feira, 10 de março de 2010

Sobre os trilhos, o metrô; sobre o bolo, a cereja.

O transporte e o deslocamento dos trabalhadores nas metrópoles é uma forma de exploração um tanto discreta. Nós, trabalhadores, muitas vezes não percebemos como que as longas e desconfortáveis viagens favorecem a conservação do status quo.

O mecanismo é simples.

A maioria de nós faz deslocamentos longos em tempo e em espaço. O resultado disto é que o tempo gasto com transporte é do patrão. Enquanto estamos no ônibus, no metrô, no trem, barca ou mesmo num carro particular, temos menos tempo para nós mesmo, seja pra ficarmos com nossas famílias, para divertimento/lazer, para estudo ou mesmo para ficarmos com o papo pro ar. A jornada de trabalho de 8hs diárias acaba facilmente acrescida de duas.

Se viajássemos em acomodações confortáveis os problemas, embora não fossem menores, parariam por aí. O negócio é que não param. O padrão do transporte público é assentos estreitos, veículos lotados e quentes. O bem-estar do usuário não é levado em conta pelos empresários do setor, que só se atentam para o lucro no menor intervalo de tempo.

Está tudo errado. A exploração dessa atividade econômica é concessão pública, em tese poderia ser caçada se não atendesse às exigências contratuais ou representassem risco à vida ou segurança pública. Nesse quesito, o serviço metroviário do Rio tem dado aula. O descaso das autoridades e a promiscuidade entre essas e o setor privado ocupa os noticiários há dias.

A Agência Brasil de Fato fez uma matéria especial sobre o Transporte Público de São Paulo. Na matéria, que é interessante, tem uma parte que compara o metrô de São Paulo – sua malha metroviária e valor de sua passagem – com outros da América Latina. Na verdade, se o de São Paulo fica para trás, o do Rio não dá nem para a saída.




Rio de Janeiro, 47km



A passagem do nosso metrô é R$2,80.

É isso mesmo, temos o menor número de linhas, a menor malha metroviária e pagamos o valor mais caro na comparação em questão.

A Metrô Rio, empresa concessionária que administra a concessão pública, responde a vários processos, que vão desde descumprimento de termos contratuais até risco a segurança pública. Intervalos irregulares, ocupação superior a seis passageiros por metro quadrado, problemas no ar-condicionado e no sistema das portas, dúvida quanto a segurança da nova Linha 2 são alguns exemplos de problemas enfrentados cotidianamente pelos trabalhadores que usam esse serviço.

Mas eu disse lá em cima que a Metrô Rio dá uma aula de descaso com o público e promiscuidade entre autoridades e o setor privado. Sobre o descaso eu já falei, vamos à relação promiscua.

Os processos movidos pelo Ministério Público e por cidadãos têm caído por terra. O pedido de CPI foi vetada por Jorge Picciani, presidente da Alerj. O que acontece? O santo é forte? Estamos todos loucos e o serviço é bem prestado? As denúncias são inconsistentes?

A Metrô Rio é representada judicialmente por alguns escritórios. Entre eles o Coelho, Ancelmo & Dourado Advogados. Ancelmo vem de Adriana Ancelmo Cabral, ninguém menos que a primeira-dama do estado do Rio de Janeiro. A Assessoria do Governo do Estado diz não ver problema nenhum nisto. Eu tenho cá minhas dúvidas.

Não que a péssima prestação do serviço implicasse na cassação de concessão, entre o bem comum e o poder econômico, o último amiúde vence. Esse bolo nós já conhececemos, seu gosto é amargo e nos vem sendo empurrado há muito. O negócio é a cereja deste bolo.

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