quarta-feira, 31 de março de 2010

Católicas contra a interferência da Igreja Católica no PNDH-3



Muitas atrocidades foram cometidas pela catolicismo, muitos nomes transitaram e transitam sem dificuldade entre as masmorras e os púlpitos.

Muitos foram e são os que rezam o catolicismo e trabalham pela construção de um mundo melhor.

No passado e no presente, o poder amiúde esteve nas mãos dos que são favoráveis aos genocídios e às barbáries. Isso não é exclusividade da Igreja Católica, infelizmente.

Mas a história não é só a dos poderosos. Para cada Ratzinger, temos um Leonardo Boff. E se a História nos traz muito mais exemplos de Ratzingeres, é menos pela falta de Leonardos do que pelo fato de que a caneta que contou a História até aqui esteve mais ligada à Inquisição do que à Teologia da Libertação. Mas outros ventos sopram hoje.

Embora ocupe o Trono de São Pedro um ex-membro da juventude hitlerista, há católicos que contribuem para a construção de um outro mundo, diferente deste que o sumo pontífice corrobora conservar.

É o que podemos dizer das mulheres do movimento Católicas pelo Direito de Decidir.

Por sugestão da navegante Rogéria Peixinho, divulgo a declaração de um movimento - entre tantos outros - que ao trabalharem me fazem acreditar que outro mundo é possível.

COM QUE MORAL?
DECLARAÇÃO PÚBLICA DE CATÓLICAS PELO DIREITO DE DECIDIR


A Igreja católica - que perde moral por abusos sexuais cometidos por seus padres contra crianças, adolescentes e mulheres - interfere na redação do III PNDH sob a bandeira da moralidade. E o governo federal aceita.

O tema do abuso sexual cometido por religiosos volta a ganhar as páginas dos jornais em todo o mundo. Na realidade, a discussão sobre esse problema tão grave teve início em 2002, quando vários casos de pedofilia foram denunciados nos Estados Unidos. A partir dessas denúncias, as notícias de outros abusos por parte do clero em todo o mundo não pararam mais de ocupar a imprensa. Foram tornados públicos casos em países ricos e em países pobres. Também no Brasil, os casos ganharam destaque.

A primeira reação da hierarquia eclesiástica têm sido a de minimizar o problema, dizendo que esse tipo de caso é raro, que as denúncias atendem a interesses de ordem política, entre outros tipos de despistamento. O fato é que os padres que são alvos de tais denúncias são simplesmente transferidos para outras paróquias, ou seja, essa tem sido a forma que a Igreja tem encontrado para "resolver" a situação. Essas transferências, na verdade, contribuem para acobertar e manter impune o culpado, mas expõem a comunidade de destino a abusos semelhantes.

O problema, porém, vai ganhando espaço na mídia, com mais e mais denúncias em diversos países do mundo. Nos últimos meses, tornaram-se públicos clamorosos escândalos na Alemanha, Holanda, Irlanda, Brasil e Itália. Diante disso, não é suficiente que o Papa peça desculpas às vítimas de abusos sexuais. É necessária uma reação séria de investigação e punição de culpados, tanto por parte da Igreja, como por parte do Estado. O cidadão religioso, antes de tudo, é parte de uma sociedade e deve prestar contas de seus atos a ela. Por isso, a Justiça comum deve servir também para os religiosos. A Igreja só voltará a ganhar um pouco de credibilidade quando der uma resposta decente a todas essas denúncias e parar de encobrir abusadores que, na realidade, são criminosos.

Um fato importante, mas que tem tido pouca visibilidade e pouco destaque na mídia, é o abuso de mulheres adultas, tão comum quanto os casos de abusos sexuais de menores e adolescentes. As mulheres estão também, infelizmente, expostas ao poder e à violência de padres abusadores, justamente as mais vulneráveis: secretárias de paróquias, coroinhas femininas, catequistas e mesmo paroquianas pobres, cujas famílias às vezes dependem de auxílio econômico do pároco, têm histórias de abuso para contar. E nenhuma delas sequer imaginava que um padre - autoridade religiosa a quem aprenderam a respeitar - poderia ser um abusador. Sem poder contar com a compaixão que caracteriza a violência sexual contra menores, mulheres que chegam a fazer a denúncia têm sido expostas à execração pública por julgamentos negativos e humilhantes proferido por superiores hierárquicos do denunciado, sofrendo pressão e ameaça, sem contar com apoio de familiares, do aparato jurídico-policial, da comunidade religiosa e do público mais amplo. Ou seja, à violência sexual por padres contra mulheres se somam outras, que resultam em verdadeiro caos em suas vidas.

Sabemos bem que a visão preconceituosa e perniciosa que a Igreja tem em relação à sexualidade só favorece práticas pouco saudáveis na vida sexual daqueles/as que estão sujeitos/as a um celibato imposto. Se a liberdade de consciência é um princípio fundamental no cristianismo, como é possível manter a instituição do celibato obrigatório? Não seria muito melhor que os padres que quisessem casar, assim o fizessem? Aqueles que se sentem com vocação para o celibato poderiam conservar seu status de celibatários/as e sem dúvida seriam felizes. Com isso não afirmamos que todo o celibato conduz ao abuso sexual, mas quando não existe liberdade, dificilmente poderemos imaginar uma vida de serviço, amor ao próximo e respeito às pessoas. A imposição só pode gerar práticas de abuso de poder, de abuso de autoridade e é isso que padres infelizes com seus celibatos têm feito com crianças, adolescentes e mulheres: abusado do poder que os reveste. Por que será que há mais casos de pedofilia na Igreja do que em outras instituições? As denúncias mais notáveis têm se referido mais a práticas de abuso por parte de padres do que de outras categorias.

O inexplicável é que - justamente em um contexto em que a Igreja perde sua credibilidade no mundo todo, deixando de ser vista como referência moral - o governo brasileiro mostra sua fragilidade ao ceder às pressões da CNBB - Conferência Nacional dos Bispos no Brasil, retrocedendo na formulação do III Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-III). É neste momento, em que os direitos humanos de meninos, meninas e mulheres vêm sendo desrespeitados escancaradamente por atos de abuso sexual cometidos por padres, que o Governo resolve ajoelhar-se frente aos bispos brasileiros e dar as costas à população.

Quando o governo retira do PNDH-III o apoio à descriminalização do aborto no Brasil e a proposta de retirada de símbolos religiosos dos espaços públicos, está fortalecendo uma instituição que esconde seus padres abusadores, que culpa as vítimas - sobretudo as mulheres - pelo crime que elas sofreram, uma instituição que se mantém em uma grande ambigüidade ao proferir a fé cristã e, ao mesmo tempo, para salvar sua imagem, não tem coragem de assumir as próprias contradições.

O governo brasileiro deveria governar para todos/as os/as cidadãos/ãs, respeitar a laicidade do Estado e cumprir sua missão de governo, seguindo a constituição e não uma instituição religiosa - que inclusive agora se vê sem nenhuma autoridade moral -, o que não contempla os direitos de todos/as.

Leia mais informações sobre o tema no livro:
Desvelando a política do silêncio: abuso sexual de mulheres por padres no Brasil, de Regina Soares Jurkewicz, publicada por Católicas pelo Direito de Decidir em
2005.

Católicas pelo Direito de Decidir
www.catolicasonline.org.br

terça-feira, 30 de março de 2010

Avatar e o holocausto americano


George Monbiot diz que Avatar é odiado pela direita americana por tocar na ferida ao contar "uma história que ninguém quer escutar, por causa do desafio que oferece ao modo como escolhemos ver a nós mesmos": a hegemonia europeia - e capitalista - foi conquistada a custa do holocausto americano.

O artigo está na Agência Carta Maior.


Avatar conta uma história que preferimos esquecer

George Monbiot

O Blockbuster em 3D Avatar, de James Cameron, é tanto profundamente tolo como profundo. É profundo porque, como em muitos filmes sobre alienígenas, é uma metáfora para o contato entre culturas humanas diferentes. Mas nesse caso a metáfora é consciente e precisa: esta é a história do engajamento europeu com os povos nativos das Américas. É profundamente tolo porque a exigência de um final feliz engendra um enredo tão estúpido e previsível que arranca o coração do filme. O destino dos nativos americanos é tratado com mais proximidade histórica do que a história contada em outro filme novo, The Road (John Hillcoat, 2009), no qual pessoas sobreviventes de um cataclismo fogem aterrorizadas enquanto são caçadas até a extinção.

Mas essa é uma história que ninguém quer escutar, por causa do desafio que oferece ao modo como escolhemos ver a nós mesmos. A Europa enriqueceu maciçamente com os genocídios nas Américas; as nações americanas foram fundadas neles. Essa é uma história que não podemos aceitar.

Em seu livro Holocausto Americano, o acadêmico estadunidense David Stannard documenta os maiores atos de genocídio que o mundo já experienciou. Em 1492, 100 mil povos nativos viviam nas Américas. No fim do Século XIX, quase todos eles tinham sido exterminados. Muitos morreram de doenças. Mas a extinção em massa também foi empreendida.

Quando os espanhóis chegaram nas Américas, eles descreveram um mundo que dificilmente teria sido muito diferente do seu próprio. A Europa foi devastada pela guerra, pela opressão, escravidão, fanatismo, doença e fome. As populações que encontraram eram saudáveis, bem nutridas e em sua maioria (com exceções, como os Astecas e Incas), pacíficas, democráticas e igualitárias. Pelas Américas, os primeiros exploradores, inclusive Colombo, observaram a extraordinária hospitalidade dos nativos. Os conquistadores ficaram maravilhados com as impressionantes estradas, construções e com a arte que encontraram, a qual em alguns casos ia além de tudo o que tinham visto antes. Nada disso os impediu de destruir tudo e todos que encontraram pelo caminho.

O açougue começou com Colombo. Ele abateu o povo nativo da Hispaniola (hoje Haiti e República Dominicana) por meio de uma brutalidade inimaginável. Seus soldados arrancaram bebês de suas mães e espatifaram suas cabeças em pedras. Jogaram seus cachorros sobre crianças vivas. Numa ocasião, eles enforcaram 13 índios em honra a Cristo e aos 12 discípulos, num cadafalso na altura em que seus dedos tocassem o chão, então os estriparam e queimaram vivos. Colombo ordenou que todos os nativos entregassem uma certa quantia de ouro a cada três meses; quem não o fizesse teria suas mãos cortadas. Por volta de 1535, a população nativa da Hispaniola havia caído de 8 mil para zero; parte como consequência de doença, parte como de assassinato, sobrecarga de trabalho e fome.

Os conquistadores espalharam sua missão civilizatória ao longo das Américas Central e do Sul. Quando não conseguiam dizer onde seus tesouros míticos estavam escondidos, os povos indígenas eram açoitados, afogados, desmembrados, devorados por cachorros, enterrados vivos ou queimados. Os soldados cortavam os seios das mulheres, devolviam as pessoas a suas cidades com suas mãos e narizes cortados, ao redor de seus pescoços e índios caçados por seus cães, por esporte. Mas a maior parte foi morta pela escravidão e doença. Os espanhóis descobriram que era mais barato fazer os índios trabalharem até a morte e substituí-los, do que mantê-los vivos: a expectativa de vida nas minas e plantações era de três a quatro meses. Um século após sua chegada, em torno de 95% da população da América Central e do Sul tinha sido destruída.

Na Califórnia, ao longo do Século XVIII a Espanha sistematizou o extermínio. Um missionário franciscano chamado Juniperro Serra deu cabo de uma série de “missões”: na realidade, de campos de concentração usando trabalho escravo. A população nativa foi arrebanhada pela força das armas e posta a trabalhar nos campos, com um quinto das calorias de que os afro-americanos escravos no Século XIX se nutriam. Eles morriam de tanto trabalhar, de fome e doença em índices alarmantes, e eram continuamente substituídos, limpando etnicamente as populações indígenas. Juniperro Serra, o Eichmann da Califórnia, foi beatificado pelo Vaticano em 1988. Neste momento esperam mais um só milagre seu para torná-lo santo.

Enquanto a colonização espanhola foi orientada pelo lustro do ouro, a Norte-Americana foi pela terra. Na Nova Inglaterra eles renderam as vilas dos nativos americanos e os assassinaram enquanto dormiam. Enquanto o padrão oeste de genocídio se espalhava, era endossado em níveis cada vez mais altos. George Washington ordenou a destruição total das casas e da terra dos Iroquois. Thomas Jefferson declarou que as guerras de sua nação com os índios deveriam continuar até que cada tribo “seja eliminada ou jogada para além do Mississipi”. No Massacre de Sand Creek, de 1864, tropas no Colorado abateram povos desarmados com a bandeira branca em mãos, matando crianças e bebês, mutilando seus corpos e guardando as genitálias das vítimas para usar como porta-tabaco ou amarrar seus chapéus. Theodore Roosevelt chamou a esse evento de “o feito mais correto e benéfico jamais ocorrido na fronteira”.

O abatedouro ainda não acabou: no mês passado, o Guardian reportou que fazendeiros brasileiros na Amazônia oeste, depois de abaterem a todos, tentaram mantar o último sobrevivente de uma tribo da floresta. Ainda assim, os maiores atos de genocídio da história raramente perturbam nossa consciência coletiva. Talvez tivesse vindo a ser isso o que teria ocorrido caso os nazistas houvesse vencido a Segunda Guerra Mundial: o Holocausto teria sido denegado, desculpado ou minimizado da mesma maneira, mesmo se continuasse a ocorrer. As pessoas das nações responsáveis – Espanha, Inglaterra, EUA e outros – não tolerarão comparações, mas as soluções finais empreendidas nas Américas foram muitíssimo melhor sucedidas. Aqueles que cometeram ou as endossaram ainda perseveram como heróis nacionais. Aqueles que fustigam nossa memória são ignorados e condenados.

É por isso que a direita odeia Avatar. No neocon Weekly Standard, John Podhoretz reclama que o filme parece “um western revisionista”, no qual “os índios se tornam caras bons e os Americanos, os caras ruins”. Ele diz que o filme questiona “as raízes da derrota dos soldados americanos nas mãos da insurgência”. Insurgência é uma palavra interessante para uma tentativa de resistir à invasão: insurgente, como selvagem, é como é chamado alguém que tem alguma coisa que você quer. L'Observatore Romano, jornal oficial do Vaticano, condenou o filme, chamando-o de “apenas...uma parábola anti-imperialista e anti-militarista”.

Mas ao menos a direita sabe o que está atacando. No New York Times, o crítico liberal Adam Cohen elogia Avatar por defender a necessidade de se ver claramente. O filme revela, diz ele, “um princípio bem conhecido do totalitarismo e do genocídio, que o oponente é melhor oprimido quando não podemos vê-lo”. Mas, numa formidável ironia inconsciente, ele contorna estrondosamente a metáfora óbvia e, em vez de falar dela, ele enfatiza as atrocidades nazistas e soviéticas. Nós nos tornamos todos hábeis na arte de não ver.

Eu concordo com as críticas de direita que dizem que Avatar é rude, enjoativo e clichê. Mas ele fala de uma coisa mais importante – e mais perigosa – do que aquelas contidas em milhares de filmes de arte.

(*) George Monbiot é jornalista e escritor. Texto publicado na página do autor.

Tradução: Katarina Peixoto

domingo, 28 de março de 2010

UDR ganha 25 vezes incentivos do Estado do que o MST


O PIG é cheio de especialistas, sempre tem alguém entendido no assunto, embora sejam sempre os mesmos.

São os mesmos para dizer o de sempre. Quem explica isso é o Sakamoto.

Gostaria de ver o Willian Boner entevistar Miguel Carter.

Enquanto isso, temos que ficar com o Paulo Henrique Amorim.

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Carter: Kátia Abreu recebe 25 vezes mais dinheiro do Governo do que o MST

28/março/2010 12:09
Carter: exagerar o poder do MST é um preconceito de classe

Em dezembro de 2009, Miguel Carter concluiu o trabalho de organizar o livro ‘Combatendo a Desigualdade Social – O MST e a Reforma Agrária no Brasil.’. É um lançamento da Editora UNESP, que reúne colaborações de especialistas sobre a questão agrária e o papel do MST pela luta pela Reforma Agrária no Brasil.

Esta semana, ele conversou com Paulo Henrique Amorim, por telefone.

PHA – Professor Miguel, o senhor é professor de onde?

MC – Eu sou professor da American University, em Washington D.C.

PHA – Há quanto tempo o senhor estuda o problema agrário no Brasil e o MST?

MC- Quase duas décadas já. Comecei com as primeiras pesquisas no ano de 91.

PHA – Eu gostaria de tocar agora em alguns pontos específicos da sua introdução “Desigualdade Social Democracia no Brasil”. O senhor descreve, por exemplo, a manifestação de 2 de maio de 2005, em que, por 16 dias, 12 mil membros do MST cruzaram o cerrado para chegar a Brasília. O senhor diz que, provavelmente, esse é um dos maiores eventos de larga escala do tipo marcha na história contemporânea. Que comparações o senhor faria ?

MC – Não achei outra marcha na história contemporânea mundial que fosse desse tamanho. A gente tem exemplo de outras mobilizações importantes, em outros momentos, mas não se comparam na duração e no numero de pessoas a essa marcha de 12 mil pessoas. Houve depois, como eu relatei no rodapé, uma mobilização ainda maior na Índia, também de camponeses sem terra. Mas a de 2005 era a maior marcha.

PHA – O senhor compara esse evento, que foi no dia 2 de maio de 2005, com outro do dia 4 de junho de 2005 – apenas 18 dias após a marcha do MST – com uma solenidade extremamente importante aqui em São Paulo que contou com Governador Geraldo Alckmin, sua esposa, Dona Lu Alckmin, e nada mais nada menos do que um possível candidato do PSDB a Presidência da República, José Serra, que naquela altura era prefeito de São Paulo. Também esteve presente Antônio Carlos Magalhães, então influente senador da Bahia. Trata-se da inauguração da Daslu. Por que o senhor resolver confrontar um assunto com o outro ?

MC – Porque eu achei que começar o livro com simples estatísticas de desigualdades sociais seria um começo muito frio. Eu acho que um assunto como esse precisa de uma introdução que também suscite emoções de fato e (chame a atenção para) a complexidade do fenômeno da desigualdade no Brasil. A coincidência de essa marcha ter acontecido quase ao mesmo tempo em que se inaugurava a maior loja de artigos de luxo do planeta refletia uma imagem, um contraste muito forte dessa realidade gravíssima da desigualdade social no Brasil. E mostra nos detalhes como as coisas aconteciam, como os políticos se posicionavam de um lado e de outro, como é que a grande imprensa retratava os fenômenos de um lado e de outro.

PHA – O senhor sabe muito bem que a grande imprensa brasileira – que no nosso site nós chamamos esse pessoal de PiG (Partido da Imprensa Golpista) - a propósito da grande marcha do MST, a imprensa ficou muito preocupada como foi financiada a marcha. O senhor sabe que agora está em curso uma Comissão Parlamentar de Inquérito Mista, que reúne o Senado e a Câmara, para discutir, entre outras coisas, a fonte de financiamento do MST. Como o senhor trata essa questão ? De onde vem o dinheiro do MST ?

MC _ Tem um capítulo 9 de minha autoria feito em conjunto com o Horácio Marques de Carvalho que tem um segmento que trata de mostrar o amplo leque de apoio que o MST tem, inclusive e apoio financeiro.

PHA – O capítulo se chama “Luta na terra, o MST e os assentamentos” - é esse ?

MC – Exatamente. Há uma parte onde eu considero sete recursos internos que o MST desenvolveu para fortalecer sua atuação, nesse processo de fazer a luta na terra, de fortalecer as suas comunidades, seus assentamentos. E aí tem alguns detalhes, alguns números interessantes. Porque eu apresento dados do volume de recursos que são repassados para entidades parceiras por parte do Governo Federal. Eu sublinho no rodapé dessa mesma página o fato de que as principais entidades ruralistas do Brasil têm recebido 25 vezes mais subsídios do Governo Federal (do que o MST). E o curioso de tudo isso é que só fiscalizado como pobre recebe recurso público. Mas, sobre os ricos, que recebem um volume de recursos 25 vezes maior que o dos pobres, (sobre isso) ninguém faz nenhuma pergunta, ninguém fiscaliza nada. Parece que ninguém tem interesse nisso. E aí o Governo Federal subsidia advogados, secretárias, férias, todo tipo de atividade dos ruralistas. Então chama a atenção que propriedade agrária no Brasil, ainda que modernizada e renovada, continua ter laços fortes com o poder e recebe grande fatia de recursos públicos. Isso são dados do próprio Ministério da Agricultura, mencionados também nesse capítulo. Ainda no Governo Lula, a agricultura empresarial recebeu sete vezes mais recursos públicos do que a agricultura familiar. Sendo que a agricultura familiar emprega 80% ou mais dos trabalhadores rurais.

PHA – Qual é a responsabilidade da agricultura familiar na produção de alimentos na economia brasileira ?

MC – Na página 69 há muitos dados a esse respeito.

PHA- Aqui: a mandioca, 92% saem da agricultura familiar. Carne de frango e ovos, 88%. Banana, 85%.. Feijão, 78%. Batata, 77%. Leite, 71%. E café, 70%. É o que diz o senhor na página 69 sobre o papel da agricultura familiar. Agora, o senhor falava de financiamentos públicos. Confederação Nacional da Agricultura, presidida pela senadora Kátia Abreu, que talvez seja candidata a vice-presidente de José Serra, a Confederação Nacional da Agricultura recebe do Governo Federal mais dinheiro do que o MST ?

MC – Muito mais. Essas entidades ruralistas em conjunto, a CNA, a SRB, aquela entidade das grandes cooperativas, em conjunto elas recebem 25 vezes do valor que recebem as entidades parceiras do MST. Esses dados, pelo menos no período 1995 e 2005, fizeram parte do relatório da primeira CPI do MST. O relatório foi preparado pelo deputado João Alfredo, do Ceará.

PHA – O senhor acredita que o MST conseguirá realizar uma reforma agrária efetiva ? A sua introdução mostra que a reforma agrária no Brasil é a mais atrasada de todos os países que fazem ou fizeram reforma agrária. Que o Brasil é o lanterninha da reforma agrária. Eu pergunto: por que o MST não consegue empreender um ritmo mais eficaz ?

MC – Em primeiro lugar, a reforma agrária é feita pelo Estado. O que os movimentos sociais como o MST e os setenta e tantos outros que existem em todo o Brasil fazem é pressionar o Estado para que o Estado cumpra o determinado na Constituição. É a cláusula que favorece a reforma agrária. O MST não é responsável por fazer. É responsável por pressionar o Governo. Acontece que nesse país de tamanha desigualdade, a história da desigualdade está fundamentalmente ligada à questão agrária. Claro que, no século 20, o Brasil, se modernizou, virou muito mais complexo, surgiu todo um setor industrial, um setor financeiro, um comercial. E a (economia) agrária já não é mais aquela, com tanta presença no Brasil. Mas, ainda sim, ficou muito forte pelo fato de o desenvolvimento capitalista moderno no campo, nas últimas décadas, ligar a propriedade agrária ao setor financeiro do país. É o que prova, por exemplo, de um banqueiro (condenado há dez anos por subornar um agente federal – PHA) como o Dantas acabar tendo enormes fazendas no estado do Pará e em outras regiões do Brasil. Houve então uma imbricação muito forte entre a elite agrária e a elite financeira. E agora nessa última década ela se acentuou num terceiro ponto em termos de poder econômico que são os transacionais, o agronegócio. Cargill, a Syngenta… Antes, o que sustentava a elite agrária era uma forte aliança patrimonialista com o Estado. Agora, essa aliança se sustenta em com setor transacional e o setor financeiro.

PHA – Um dos sustos que o MST provoca na sociedade brasileira, sobretudo a partir da imprensa, que eu chamo de PiG, é que o MST pode ser uma organização revolucionária – revolucionária no sentido da Revolução Russa de 1917 ou da Revolução Cubana de 1959. Até empregam aqui no Brasil, como economista Xico Graziano, que hoje é secretário de José Serra, que num artigo que o senhor fala em “terrorismo agrário”. E ali Graziano compara o MST ao Primeiro Comando da Capital. O Primeiro Comando da Capital, o PCC, que, como se sabe ocupou por dois dias a cidade de São Paulo, numa rebelião histórica. Eu pergunto: o MST é uma instituição revolucionária ?

MC – No sentido de fazer uma revolução russa, cubana, isso uma grande fantasia. E uma fantasia às vezes alardeada com maldade, porque eu duvido que uma pessoa como o Xico Graziano, que já andou bastante pelo campo no Brasil, não saiba melhor. Ele sabe melhor. Mas eu acho que (o papel do) MST é (promover) uma redistribuição da propriedade. E não só isso, (distribuição) de recursos públicos, que sempre privilegiou os setores mais ricos e poderosos do país. Há, às vezes, malícia mesmo de certos jornalistas, do Xico Graziano, Zander Navarro, dizendo que o MST está fazendo uma tomada do Palácio da Alvorada. Eles nunca pisaram em um acampamento antes. Então, tem muito intelectual que critica sem saber nada. O importante desse (“Combatendo a desigualdade social”) é que todos os autores têm longos anos de experiência (na questão agrária). A grande maioria tem 20, 30 anos de experiência e todos eles têm vivência em acampamento e assentamentos. Então conhecem a realidade por perto e na pele. O Zander Navarro, por exemplo, se alguma vez acompanhou de perto o MST, foi há mais de 15 anos. Tem que ter acompanhamento porque o MST é de fato um movimento.

PHA – Ou seja, na sua opinião há uma hipertrofia do que seja o MST ? Há um exagero exatamente para criar uma situação política ?

MC – Exatamente. Eu acho que há interesse por detrás desse exagero. O exagero às vezes é inocente por gente que não sabe do assunto. Mas às vezes é malicioso e procura com isso criar um clima de opinião para reprimir, criminalizar o MST ou cortar qualquer verba que possa ir para o setor mais pobre da sociedade brasileira. Há muito preconceito de classe por trás (desse exagero).

sexta-feira, 26 de março de 2010

Não existe racismo no Brasil


Recebi o texto Olha o outro lado da moeda aí do meu amigo Eber.

O texto é do blogueiro Marcelo Migliaccio, que assina o blog Rio acima.

Nele, Migliaccio trata da diferença na abordagem sobre recentes episódios com o humorista Leandro Hassum e os jogadores Adriano e Vagner Love. Os três apareceram recentemente nos jornais por envolvimento com traficantes.

De um lado, dois negros, de origem humilde que mantêm amizade com traficantes de favelas. Do outro, comediante global branco, cujo pai está preso (julgado e condenado) por trafico de drogas.

Quero registrar que eu não tenho nenhum interesse em explorar o fato de essas pessoas terem qualquer relação com traficantes. Nem me agrada o fato de a mídia explorar essas relações. Nenhum dos três têm poder sobre as opções das outras pessoas, ninguém tem esse poder e não é fato de eles serem celebridades que lhes tornaria diferentes.

Pelo contrário, penso que Adriano, Vagner Love ou Hassum passam um momento difícil. Inclusive lamento a exploração que esses fatos vêm sofrendo. Mas esse é o mundo que vivemos, essa é a mídia que temos, esses são os mecanismos e métodos por ela utilizados. Transforma-os em celebridades e explora suas fraquezas. Não é zorra total, é a vida como ela é.

Feitas essas considerações, vamos a outros fatos.

Fiquei curioso com a distinção de cobertura entre os casos tão similares. Fiz uma pesquisa na rede.

Ontem, às 17h, digitei isoladamente cada umas das palavras 'Adriano', 'Vagner Love' e 'Leandro Hassum' em dois portais de grandes emissoras, o G1 (Globo) e o R7 (Record) e no Google.

Eis os resultados


Obs.1: No caso da pesquisa no Google, solicitei que a 'pesquisa avançada' fosse feita com os nomes mas apenas nos últimos trinta dias.

Em seguida, fiz outra pesquisa. Digitei os mesmos nomes acrescidos de 'traficante', sem restringir que os nomes e a palavra 'traficante' tivessem que vir juntas, apenas na mesma página.

Eis os resultados

Obs.1: No caso da pesquisa no Google, solicitei que a 'pesquisa avançada' fosse feita com os nomes mas apenas nos últimos trinta dias

A sociedade brasileira é extremamente racista e isso pode ser visto e medido nesses pequenos detalhes.

Vamos ao Migliaccio.

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Olha o outro lado da moeda aí
18/03/2010 - 09:14 | Enviado por: Migliaccio

Vejam só como são as coisas:

Um jornal aqui do Rio publicou no alto da primeira página que o pai de um conhecido comediante foi preso por tráfico de drogas.

O tom da manchete, no entanto, é bem diferente daqule dedicado aos dois jogadores de futebol, negros e nascidos em favelas.

Agora, o jornal é paternal, quase choroso, afinal o humorista é branco e de classe média, ao que se saiba nunca morou numa favela. Merece, portanto, ser exposto da forma mais respeitosa possível.

"Fulano vive um drama com o pai preso por tráfico", diz o jornal (que, como sua nave-mãe, também tem nome de biscoito-que-se-come-na-praia). Aqui é drama; com os atletas é banditismo mesmo.

E segue o subtítulo: "ele diz que se afastou do pai 'por causa de problemas'". Vejam bem, nesse caso a palavra dele vale. Vágner Love também disse que nâo tem ligação com o tráfico, mas isso não valeu de nada. Disseram até que o jogador era "escoltado" por traficantes armados, embora a imagem não dê margem a essa conclusão.

O humorista, que faz boa parte do Brasil rir todos os sábados, certamente não será chamado a depor na delegacia pelo delegado que convocou Adriano e Vágner Love. Ele disse ao jornal que nâo vê o pai há seis anos e isso basta.

Aliás, nem teria por que ser chamado mesmo

No final das contas, ele terá sido vítima apenas da coluna de fofoca do jornal. Embora cuidadosa e cheia de dedos na abordagem, a Candinha de rapina não deixou de expô-lo. Não iria perder esse filé.

Está implicito para nossa sociedade preconceituosa que o ator nada tem a ver com os infelizes negócios do pai. Ninguém tem dúvidas disso. Seu sigilo telefônico não será quebrado, como será o de Adriano, que, em tese, tem direito de presentear quem bem entender, mesmo uma mulher cujo filho é acusado de tráfico. Esse é o estado de direito.

Ser mãe de traficante significa muito quando o assunto é a moto dada por Adriano. Mas ser filho de traficante não significa nada quando está em questão o humorista.

Os jogadores terão que se explicar na delegacia, apesar de a lei dizer que o ônus da prova cabe a quem acusa.

Uma leitora deste blog citou também os casos de dois galãs de novela presos comprando drogas. Foram tratados como vítimas que precisam de ajuda. E são mesmo, excelentes pais, inclusive. Mas vale lembrar que nem Adriano nem Vágner Love foram flagrados em antidoping... e no entanto estão sendo apedrejados. Para os galãs, apareceram tiras compreensivos.

Bom, as coisas são assim...

Aos que disseram que defendo marginais, recomendo um curso urgente de alfabetização, porque este não é um debate policial, mas sobre os limites éticos e legais da imprensa.

Só para encerrar, como disse o leitor ZFlash, que conheço como o Dean Martin da Rua do Russel, sou tricolor e não rubro-negro.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Preconceito de classe



O fato de termos um ex-metalúrgico na presidência despertou um enorme preconceito de classe. Virou lugar-comum dizer que Lula é burro, ou qualquer coisa que o valha.

Esse comportamento é amplamente praticado pela elite (branca). Seus capatazes no PIG divulgam como opinião pública e os seguidores médio-classistas reverberam num tom de identificação.

O blogueiro Ailton Medeiros postou um texto em que ele critica o preconceito de classe praticado despudoradamente pela mídia nativa. O ataque é centrado em alguns célebres arautos da elite reacionária - como Sardenberg e J. U. Ribeiro. Mas sobrou até para Mino Carta, que na maioria das vezes se coloca em favor do presidente e tem sua revista tida como uma 'revista do PT' pelos menos familiarizados com ela.

Achei que vale a pena, então, copiei e colei.

É PRECONCEITO, ESTÚPIDO
Enviado em 23/03/10 às 22h57min por Ailton Medeiros

Sempre achei entediante esse papo de que Lula é ignorante, que não sabe de nada, que não sabe a diferença entre o sistema presidencialista do parlamentarista, que confunde choque de gestão com contratação, e coisa desse tipo.

“Confunde coisa alguma. Os neoliberais querem reduzir o tamanho do Estado, o presidente quer aumentar. Quer contratar mais médicos, professores, biólogos para o Ibama. É uma divergência programática”, afirma Bernardo Kucinski.

Num artigo primoroso ele analisa o julgamento já transformado em clichê que a oposição e alguns jornalistas fazem do presidente. Quase sempre por preconceito. Seguem trechos:

Um dia encontrei Lula, ainda no Instituto Cidadania, em São Paulo, empolgado com um livro de Câmara Cascudo sobre os hábitos alimentares dos nordestinos. Lula saboreava cada prato mencionado, cada fruta, cada ingrediente. Lembrei-me desse episódio ao ler a coluna recente do João Ubaldo Ribeiro, “De caju em caju”, em que ele goza o presidente por falar do caju, “sem conhecer bem o caju”.

Dias antes, Lula havia feito um elogio apaixonado ao caju, no lançamento do Projeto Caju, que procura valorizar o uso da fruta na dieta do brasileiro.

“É uma pena que o presidente Lula não seja nordestino, portanto não conheça bem a farta presença sociocultural do caju naquela remota região do país…”, escreveu João Ubaldo. Alegou que Lula não era nordestino porque tinha vindo ainda pequeno para São Paulo. E em seguida esparramou citações sobre o caju, para mostrar sua própria erudição. Estou falando de João Ubaldo porque, além de escritor notável, ele já foi um grande jornalista.

Outro jornalista ilustre, o querido Mino Carta, escreveu que Lula “confunde” parlamentarismo com presidencialismo. “Seria bom”, disse Mino, “que alguém se dispusesse a explicar ao nosso presidente que no parlamentarismo o partido vencedor das eleições assume a chefia do governo por meio de seu líder…” Essa do Mino me fez lembrar outra ocasião, no Instituto Cidadania, em que Lula defendeu o parlamentarismo.

Parlamentarista convicto, Lula diz que partidos são os instrumentos principais de ação política numa democracia. Pelo mesmo motivo Lula é a
favor da lista partidária única e da tese de que o mandato pertence ao partido. Em outubro de 2001, o Instituto Cidadania iniciou uma série de
seminários para o Projeto Reforma Política, aos quais Lula fazia questão de assistir do começo ao fim. Desses seminários resultou um livro de 18
ensaios, Reforma Política e Cidadania, organizado por Maria Victória Benevides e Fábio Kerche, prefaciado por Lula e editado pela Fundação Perseu Abramo.

Se pessoas com a formação de um Mino Carta ou João Ubaldo sucumbiram à linguagem do preconceito, temos mais é que perdoar as dezenas de jornalistas de menos prestígio que também dizem o tempo todo que “Lula não sabe nada disso, nada daquilo”. Acabou virando o que em teoria do jornalismo chamamos de “clichê”.

É muito mais fácil escrever usando um clichê porque ele sintetiza idéias com as quais o leitor já está familiarizado, de tanto que foi repetido. O clichê estabelece de imediato uma identidade entre o que o jornalista quer dizer e o desejo do leitor de compreender. Por isso, o clichê do preconceito “Lula não entende” realimenta o próprio preconceito.

Alguns jornalistas sabem que Lula não é nem um pouco ignorante, mas propagam essa tese por malandragem política. Nesse caso, pode-se dizer que é uma postura contrária à ética jornalística, mas não que seja preconceituosa. Aproveitam qualquer exclamação ou uso de linguagem figurada de Lula para dizer que ele é ignorante. “Por que Lula não se informa antes de falar?”, escreveu Ricardo Noblat em seu blog, quando Lula disse que o caso da menina presa junto com homens no Pará “parecia coisa de ficção”.

Quando Lula disse, até com originalidade, que ainda faltava à política externa brasileira achar “o ponto G”, William Waack escreveu: “Ficou claro que o presidente brasileiro não sabe o que é o ponto G”.

Outra expressão preconceituosa que pegou é “Lula confunde”. A tal ponto que jornalistas passam a usar essa expressão para fazer seus próprios jogos de palavras. “Lula confunde agitação com trabalho”, escreveu Lucia Hippolito.

Empregam o “confunde” para desqualificar uma posição programática do presidente com a qual não concordam. “O presidente confunde choque de gestão com aumento de contratações”, diz o consultor José Pastore, fonte habitual da imprensa conservadora.

Confunde coisa alguma. Os neoliberais querem reduzir o tamanho do Estado, o presidente quer aumentar. Quer contratar mais médicos, professores, biólogos para o Ibama. É uma divergência programática. Carlos Alberto Sardenberg diz que Lula “confundiu” a Vale com uma estatal. “Trata-a como se fosse a Petrobras, empresa que segundo o presidente não pode pensar só em lucro, mas em, digamos, ajudar o Brasil.”

Esse caso é curioso porque no parágrafo seguinte o próprio Sardenberg pode ser acusado de confundir as coisas, ao reclamar de a Petrobras contratar a construção de petroleiros no país, apesar de custar mais. Aqui, também, Lula não fez confusão: o presidente acha que tanto a Vale quanto a Petrobras têm de atender interesses nacionais; Sardenberg acha que ambas devem pensar primeiro na remuneração
dos acionistas.

domingo, 21 de março de 2010

Tucano reclama do desemprego em baixa - inveja ou saudade tempo de mando?

Um dos colonistas* do PIG - aquele grupo de impolutas emissoras de tv e rádio, portais e mídia impressa que contem os únicos que podem realmente ser livres, como nos ensinou o ratzinger da Globo, Ali Kamel - é umas das pessoas que ajudou a enfraquecer as instituições brasileiras, que dilapidaram o patrimônio público, Luiz Carlos Mendonça de Barros.

O Mendonção foi o presidente do BNDES quando o nosso banco de desenvolvimento social fez o que os tucanos mais sabem fazer: vender o patrimônio do público para agentes privados. A sua maior obra ao Brasil foi tirar da mão do Estado a Vale do Rio Doce.

É bom que se lembre isto para entender o que esse senhor escreve/fala em suas colunas.

Na sexta feira, na Folha de São Paulo, ele fez uma defesa desesperada do aumento do desemprego. Por indicação do amigo e navegante Emerson, fiz o esforço de ler o artigo.

Não é ironia, tampouco leitura de 'entrelinhas'. São as palavras dele.

Os melhores trechos estão a seguir.

"a geração de empregos está acontecendo com a mesma intensidade de antes de setembro de 2008. Nos últimos cinco meses, as estatísticas do Ministério do Trabalho apontam para um aumento anual de quase 2,5 milhões de postos de trabalho no mercado formal. Com isso, a massa de salários deve em breve crescer a uma taxa anual superior a 6,5% ao ano."

"Sem alterações nesse ritmo, a taxa de desemprego poderia chegar a 5% ao final de 2010, nível nunca visto no país."

"Fica claro, portanto, que é preciso uma sensível desaceleração do crescimento do emprego para evitar o aumento de pressões inflacionárias."
(os grifos são meus)

Já imaginaram este homem novamente num ponto de decisão sobre a condução da economia nacional? A Mafalda ficaria com dedo de gente grande.



*adotarei o verbete criado por Paulo Henrique Amorim para designar os colunistas do PIG que reproduzem o mentalidade colonizada, que defendem o interesse da 'metrópole' ante o nosso.

sábado, 20 de março de 2010

Varsóvia Maravilhosa

Reproduzo matéria de Aline Scarzo disponível na Agência Brasil de Fato sobre mais uma do prefeito Eduardo Paes: um muro entre as favelas e as Linhas Vermelha e Amarela.

Cada tijolo colocado nos muros é um metro a mais na ponte entre a cidade partida e a cidade de todos.


Foto de uma passarela na Linha Vermelha



Agência Brasil de fato
Muros que separam favelas e vias são realidade na cidade do Rio de Janeiro
por Admin última modificação 17/03/2010 14:48
Segundo o prefeito Eduardo Paes (PMDB), placas diminuem riscos de atropelamentos e isolam as comunidades do barulho dos carros. Mas, para a população das favelas, é mais uma forma de discriminação

17/03/2010

Aline Scarso,
Radioagência NP

Começaram as polêmicas obras de instalações de muros que devem isolar treze favelas na zona sul da cidade do Rio de Janeiro (RJ) das Linhas Vermelha e Amarela, as principais vias expressas do estado. Segundo o prefeito Eduardo Paes (PMDB), as placas diminuem os riscos de atropelamentos nas vias e isolam as favelas do barulho dos carros. Mas, para a população das favelas, esta é mais uma forma de discriminação.

O presidente da Federação de Favelas do estado do Rio de Janeiro (Faferj), Rossino Castro, afirma que a obra atende aos interesses dos organizadores das Olimpíadas, prevista para acontecer na cidade em 2016.

“Porque o governo [estadual e municipal] vende uma imagem de que as favelas são urbanizadas e organizadas. O [ex-] prefeito César Maia (DEM) pegou muito dinheiro para fazer as favelas-bairro, [ou seja] para transformar as favelas em bairro, e não fez isso. Então, estão fazendo os muros para esconder as favelas dos turistas porque eles irão passar muito pelas linhas Amarela e Vermelha.”

O projeto já foi questionado pela Organização das Nações Unidas (ONU), que pediu explicações ao governo do estado. Na época foi dito que o objetivo era impedir o avanço das favelas sobre a mata atlântica, preservando assim o bioma.

“Essa de separar a favela do asfalto é discriminação. Enquanto tratar a cidade como cidade partida, a tendência da violência é crescer dia-a-dia.“

Internacionalmente, os muros já foram comparados ao antigo muro de Berlim e às barreiras que separam Palestina e Israel.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Dicas para Serra ganhar a eleição

Serra tem dúvidas se vem ou não candidato a presidência. Talvez, seja pela surra iminente que ele não quer dar em Dilma Rousseff.

A indecisão só pode ser isso. Um excelente administrador como ele - com enormes favores prestados ao país e a São Paulo e capacidade comprovada no Palácio dos Bandeirantes - deve relutar em vir candidato por querer uma disputa mais animada. Sabe como é, do outro lado tem uma mulher, e mulher é café-com-leite.

A vitória está tão na cara que até eu, que não sou marqueteiro poderia orientar.

É moleza. A campanha tem que se basear em quatro 'nãos'.

É só provar que ele NÃO é o herdeiro de FHC.




É só provar que o símbolo da gestão dele, do PSDB e do PFL* em São Paulo NÃO é enchente.


É só provar que ele NÃO representa os interesses de São Paulo contra os do Brasil.



É só convencer o Brasil inteiro que ele NÃO vai vender o Brasil em poucos lotes antes da terceira oferta.


Moleza, não?



*Nunca chamarei um partido político que apoiou a ditadura de 'democratas'. No máximo, chamarei suas ações de demoníacas.

terça-feira, 16 de março de 2010

Homenagem aos mortos



O PIG achou ruim Lula não visitar o túmulo de Théodor Herzl. Como bem observou Eduardo Guimarães, ‘Gafe’ seria Lula homenagear Herzl.

Quando vejo o comportamento do PIG e forço a memória ainda me surpreendo. Eles marcaram toca ou cobraram do Lula uma coroa de rosas no túmulo de James Monroe na última visita aos EUA? Temos que avisar os editores, seus colonistas* não estão cumprindo bem o dever de casa.

O movimento político que o senhor Herzl iniciou tem como política de Estado armas contra crianças de um povo miserável. José Arbex Jr, no livro Terror e esperança na Palestina, conta detalhes sobre sua viagem à Palestina quando Arafat ficou isolado em seu QG de Ramallah, em 2002. Uma passagem que me marcou muito é onde ele diz que os soldados só olhavam para os não israelenses através da luneta de mira.

O sionismo surgiu antes do Estado de Israel, antes dos horrores do nazismo e todo o sofrimento que o povo judeu viveu naqueles anos. É anterior ao Holocausto, cujo monumento nosso presidente Lula visitou. Contou com o apoio velado da Grã-Bretanha ao promover a ocupação de Palestina ainda no século 19.

O sofrimento vivido pelo povo judeu não justifica ou legitima a reprodução das mesmas práticas dos nazistas pelo Estado de Israel, materialização maior do sionismo. Ninguém que preze pela paz deveria render homenagem ao senhor Théodor Herzl.

O não agir, às vezes é uma ação. Ao não render homenagem a Théodor Herzl, Lula colocou uma rosa em cada mausoléu, lápide, gaveta ou cova rasa dos que lutaram pela paz no Oriente Médio, palestinos ou judeus não sionistas. Foi um gesto muito maior.

*adotarei o verbete criado por Paulo Henrique Amorim para designar os colunistas do PIG que reproduzem o mentalidade colinizada, que defendem o interesse da 'metrópole' ante o nosso.

Política externa vs. vassalagem



É lamentável que parte do Brasil torça contra o Brasil. Quando o governo Lula defende o interesse da economia nacional, intelectuais, colonistas* e políticos da direita dizem que vamos quebrar, que o preço disto ou daquilo vai subir. Quando Lula e Celso Amorim trabalham pela união da América Latina ou dão preferência pelas alianças Sul-Sul, são acusados de esforço inútil, alianças comprometedoras. Quando o governo age pela defesa da auto-determinação de uma nação e pela defesa da democracia, faz trapalhada.

O discurso é o mesmo, seu pano de fundo é o retorno à nossa condição de colônia. À chancelaria de Fernando Henrique Cardoso teciam loas, mesmo se nosso chanceler tirasse os sapatos por quatro vezes em território estadunidense. Lamentaram a ALCA ir pelo ralo.

Logo no começo da gestão Lula, quando estreitamos as relações com a África e ampliamos nossa carteira comercial por lá, foi dito que estávamos perdendo tempo - vale lembrar que Lula foi o primeiro presidente brasilleiro a fazer uma visita oficial ao continente.

O ataque a Chávez, Correa e Morales dispensa comentários sobre o trabalho que a direita, através de seus partidos ou da sua imprensa, desempenha contra uma América Latina que seja senhora de seu destino. A posição contrária à entrada da Venezuela é um ótimo exemplo. Mas o clímax foi a defesa do indefensável: o apoio incondicional ao regime golpista em Honduras. A direita brasileira, através de seus partidos ou de sua imprensa - tanto faz - chegou a classificar de trapalhada o fato de termos acolhido Zelaya na embaixada em Tegucigalpa.

No momento, a direita usa de terrorismo para defender os interesses dos EUA ante aos nossos na questão dos subsídios aos produtores de algodão naquele país. Para reparar uma dívida estimada pela OMC em mais de 800 milhões de dólares anuais, o governo vai sobre taxar produtos made in USA. A retaliação cruzada (como é chamada essa medida) foi autorizada pela OMC que considerou a prática estadunidense ilegal e prejudicial ao Brasil.

Nem o valor da monta - permitam-me repetir: o prejuízo causado à indústria nacional foi de mais de 800 milhões de dólares anuais. Nem a condenação internacional da prática do Grande Irmão do Norte, tampouco o fato de o processo ter sido protocolado ainda na gestão FHC. Nada impede que a bílis fale mais alto que a razão. A direita diz que o pãozinho vai aumentar, que os remédios vão aumentar, que a vida no Brasil vai encarecer.

Não adianta eles espernearem. Não adianta eles falarem pela manhã, pela tarde pela noite que o atual governo faz errado. Não adianta chamar os 'especialistas' para 'provarem' que é um fiasco. Na memória de todos nós, tucano é leiloeiro, bicho privatista, como bem observou carlos hermes.




*adotarei o verbete criado por Paulo Henrique Amorim para designar os colunistas do PIG que reproduzem o mentalidade colinizada, que defendem o interesse da 'metrópole' ante o nosso.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Rio de água e breu

As chuvas torrenciais que caem sobre as Cidade Maravilhosa são coisa antiga. É da natureza, concorrem pra isso vários fatores. Mas não podemos colocar na conta da Natureza as inundações e a falta de luz que vêm sempre a reboque das chuvas.

É incompetência e desleixo das autoridas. Não é uma questão natural, a questão é humana, demasidamente humana.

As autoridades jogam a culpa em nós, cidadãos. Não estão de todo errado. Nós votamos neles, primeiro motivo. Nós não reividicamos nossos direitos, segundo motivo.

Há causas ligadas à História e à Geografia da cidade que explicam os algamentos.

Recentemente o secretário municipal de conservação, Carlos Roberto Osório, disse que a culpa das ruas transbordarem quando chove é da população que joga lixo nas ruas. Bem, não está certo jogar lixo nas ruas, é uma questão de educação e educação é questão de governo, das autoridades.

Penso não ser justo colocar na conta do atual alcaide as enchentes, afinal o problema vem de muito tempo. Mas vejo muita repressão ao trabalho informal e poucas medidas que visem prevenir as enchentes que acometem nossa cidade. Cadê um plano pra desentupir os bueiros? Onde está uma estratégia para melhor o recolhimento do lixo? Cadê as campanhas educativas para não sujarem as ruas?

Outro reflexo da combinação incompetência das autoridades mais chuvas é a falta de luz. Não é responsabilidade da Ligh ou de qualquer reguladora impedir que as árvores caiam ou tenham galhos quebrados por conta de temporais - embora já não é de hoje que parte da fiação elétrica é subterrãnea. Mas, restabelecer o fornecimento no menor tempo possível é sim obrigação da concessionária e fiscalizar que isso seja feito é sim obrigação da agência reguladora.

Recentemente, vem faltando luz em vários pontos do Rio de Janeiro. Semana passada a Av. Presidente Vargas ficou sem luz durante o dia. O DETRAN ficou sem luz, gerando város prejuízos ao Departamento e a quem necessitou dos seus serviços naquela data.

A Agência Nacional de Energia Elétrica, Aneel, inspecionou a Light em novembro passado. De lá pra cá, são quase semanais os problemas com fornecimento. Ontem mesmo nove bairros amanheceram sem luz.

No início do ano, a falta de luz foi provocada pelo aumento do consumo, hoje foi a chuva.

Não podemos evitar as chuvas, mas onde estão os planos de contingência para que lares e vias públicas não fiquem sem eletricidade? Toda vez que chover teremos que torcer para que nosso bairro não esteja na área que ficará sem luz? Toda vez que cair uma água teremos que nos preparar para ficar ilhados? Cadê a ordem públcia para que a população carioca não tenha mais que conviver com alagamentos e falta de luz?

sexta-feira, 12 de março de 2010

Mudanças

Por sugestão do amigo e navegante Jean Pierre, mudei o visual do blog para um conjunto de cores mais suaves.

espero que gostem.

quinta-feira, 11 de março de 2010

O POVO CONTRA O GLOBO: Representação no Ministério Público diante da censura do jornal ao Manifesto



O PIG tem alguns mantras, questões que todos os meios de comunicação da direita golpista defendem em uníssono. Um deles é o ataque às cotas.

Demétrio Magnoli, intelectual direitista e colonista* da Bandeirantes, escreveu o livro Gota de sangue, cuja função é atacar a política do governo Lula no que toca a reparação de uma dívida histórica que a sociedade brasileira tem com uma parcela significativa de sua população.

Ali Kamel, o Ratzinger da Globo, escreveu o livro Não somos racistas.

Mas, como disse o próprio Roberto Marinho, o mais importante não é o que O Globo mostra, mas o que ele esconde.

O Globo esconde. A gente mostra.

O POVO CONTRA O GLOBO: Representação no Ministério Público diante da censura do jornal ao Manifesto

Numa articulação com ativistas sociais e intelectuais do Rio de Janeiro, a campanha Afirme-se! decidiu entrar com uma representação contra o jornal O Globo, do Rio de Janeiro. A ação, protocolada na tarde de segunda-feira, 8/3, no Ministério Público daquele Estado, foi preparada a partir de minuta do advogado Joao Fontoura Filho, que assiste na Bahia a coordenação nacional da campanha, que resolveu acionar a Justiça alegando que O Globo privou os seus leitores de ter acesso ao Manifesto publicado em outros jornais nacionais no dia 3 de março, no qual se afirma a constitucionalidade das políticas de ação afirmativa e das cotas. Ressalta a ação a contradição de um jornal que diz defender a liberdade de expressão e que critica qualquer iniciativa de a sociedade criticá-lo vir agora censurar a sociedade civil, ao impor um valor absurdo para que esta emitisse o seu ponto de vista sobre um debate que está na pauta jornalística este ano.
A direção de O Globo, após apresentar uma tabela negociada de publicação ao valor de R$ 54.163,20 (dentro dos padrões de mercado obtidos pela agência Propeg), depois de ter acesso ao conteúdo do Manifesto decidiu que somente publicaria pelo valor irracional de R$ 712.608,00 !
A coordenação da campanha buscou solucionar o impasse nas 48 horas que antecederam a abertura das audiências no STF, enviando ao setor comercial de O Globo no Rio e a um dos seus diretores uma série de mensagens, não respondidas. O blog de Luis Nassif deu em primeira mão a notícia, na noite de domingo, 7/3.
A representação é assinada pelos professores Alexandre do Nascimento, Rodrigo Guerón e pelo advogado André Magalhães Barros e quer o pronunciamento da Justiça. Já está sendo articulado um abaixo-assinado para ser anexado à ação nos próximos dias.

*adotarei o verbete criado por Paulo Henrique Amorim para designar os colunistas do PIG que reproduzem o mentalidade colinizada, que defendem o interesse da 'metrópole' ante o nosso.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Sobre os trilhos, o metrô; sobre o bolo, a cereja.

O transporte e o deslocamento dos trabalhadores nas metrópoles é uma forma de exploração um tanto discreta. Nós, trabalhadores, muitas vezes não percebemos como que as longas e desconfortáveis viagens favorecem a conservação do status quo.

O mecanismo é simples.

A maioria de nós faz deslocamentos longos em tempo e em espaço. O resultado disto é que o tempo gasto com transporte é do patrão. Enquanto estamos no ônibus, no metrô, no trem, barca ou mesmo num carro particular, temos menos tempo para nós mesmo, seja pra ficarmos com nossas famílias, para divertimento/lazer, para estudo ou mesmo para ficarmos com o papo pro ar. A jornada de trabalho de 8hs diárias acaba facilmente acrescida de duas.

Se viajássemos em acomodações confortáveis os problemas, embora não fossem menores, parariam por aí. O negócio é que não param. O padrão do transporte público é assentos estreitos, veículos lotados e quentes. O bem-estar do usuário não é levado em conta pelos empresários do setor, que só se atentam para o lucro no menor intervalo de tempo.

Está tudo errado. A exploração dessa atividade econômica é concessão pública, em tese poderia ser caçada se não atendesse às exigências contratuais ou representassem risco à vida ou segurança pública. Nesse quesito, o serviço metroviário do Rio tem dado aula. O descaso das autoridades e a promiscuidade entre essas e o setor privado ocupa os noticiários há dias.

A Agência Brasil de Fato fez uma matéria especial sobre o Transporte Público de São Paulo. Na matéria, que é interessante, tem uma parte que compara o metrô de São Paulo – sua malha metroviária e valor de sua passagem – com outros da América Latina. Na verdade, se o de São Paulo fica para trás, o do Rio não dá nem para a saída.




Rio de Janeiro, 47km



A passagem do nosso metrô é R$2,80.

É isso mesmo, temos o menor número de linhas, a menor malha metroviária e pagamos o valor mais caro na comparação em questão.

A Metrô Rio, empresa concessionária que administra a concessão pública, responde a vários processos, que vão desde descumprimento de termos contratuais até risco a segurança pública. Intervalos irregulares, ocupação superior a seis passageiros por metro quadrado, problemas no ar-condicionado e no sistema das portas, dúvida quanto a segurança da nova Linha 2 são alguns exemplos de problemas enfrentados cotidianamente pelos trabalhadores que usam esse serviço.

Mas eu disse lá em cima que a Metrô Rio dá uma aula de descaso com o público e promiscuidade entre autoridades e o setor privado. Sobre o descaso eu já falei, vamos à relação promiscua.

Os processos movidos pelo Ministério Público e por cidadãos têm caído por terra. O pedido de CPI foi vetada por Jorge Picciani, presidente da Alerj. O que acontece? O santo é forte? Estamos todos loucos e o serviço é bem prestado? As denúncias são inconsistentes?

A Metrô Rio é representada judicialmente por alguns escritórios. Entre eles o Coelho, Ancelmo & Dourado Advogados. Ancelmo vem de Adriana Ancelmo Cabral, ninguém menos que a primeira-dama do estado do Rio de Janeiro. A Assessoria do Governo do Estado diz não ver problema nenhum nisto. Eu tenho cá minhas dúvidas.

Não que a péssima prestação do serviço implicasse na cassação de concessão, entre o bem comum e o poder econômico, o último amiúde vence. Esse bolo nós já conhececemos, seu gosto é amargo e nos vem sendo empurrado há muito. O negócio é a cereja deste bolo.

terça-feira, 9 de março de 2010

Pela reforma agrária e contra a criminalização dos movimetos sociais.

A orquestração contra os movimentos sociais é visível. A banda executa a toque de caixa o mantra cujo refrão chama de bandidos, baderneiros e marginais as pessoas que protestam organizadamente por um Brasil menos injusto e mais democrático.

Assistimos a essa campanha que segue onde a elite tem o monopólio: rádio e tevê. A blogosfera é nossa trincheira na luta pela dimuição da desigualdade e constução de um Brasil melhor para todos.

Por isso, participo da divulgação desse evento. Ele será em São Paulo, mas como diz o parágrafo final, é apenas o início deste processo. Espero que em breve possamos realizar um aqui no Rio e em outros estados, afinal a reforma agrária interessa ao Brasil.

Rede de comunicadores em apoio à reforma agrária

No dia 11 de março, será realizada, a partir das 19 horas, no auditório do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (rua Rego Freitas 530) uma reunião para montagem da “rede de comunicadores em apoio à reforma agrária e contra a criminalização dos movimentos sociais". Manifesto de lançamento do grupo denuncia a ofensiva dos setores conservadores no Brasil contra a reforma agrária e qualquer movimento que combata a desigualdade e a concentração de terra e renda.

Redação

Manifesto de lançamento

Está em curso uma ofensiva conservadora no Brasil contra a reforma agrária, e contra qualquer movimento que combata a desigualdade e a concentração de terra e renda. E você não precisa concordar com tudo que o MST faz para compreender o que está em jogo.

Uma campanha orquestrada foi iniciada por setores da chamada “grande imprensa brasileira” – associados a interesses de latifundiários, grileiros - e parcelas do Poder Judiciário. E chegou rapidamente ao Congresso Nacional, onde uma CPMI foi aberta com o objetivo de constranger aqueles que lutam pela reforma agrária.

A imagem de um trator a derrubar laranjais no interior paulista, numa fazenda grilada, roubada da União, correu o país no fim do ano passado, numa ofensiva organizada. Agricultores miseráveis foram presos, humilhados. Seriam os responsáveis pelo "grave atentado". A polícia trabalhou rápido, produzindo um espetáculo que foi parar nas telas da TV e nas páginas dos jornais. O recado parece ser: quem defende reforma agrária é "bandido", é "marginal". Exemplo claro de “criminalização” dos movimentos sociais.

Quem comanda essa campanha tem dois objetivos: impedir que o governo federal estabeleça novos parâmetros para a reforma agrária (depois de três décadas, o governo planeja rever os “índices de produtividade” que ajudam a determinar quando uma fazenda pode ser desapropriada); e “provar” que os que derrubaram pés de laranja são responsáveis pela “violência no campo”.

Trata-se de grave distorção.

Comparando, seria como se, na África do Sul do Apartheid, um manifestante negro atirasse uma pedra contra a vitrine de uma loja onde só brancos podiam entrar. A mídia sul-africana iniciaria então uma campanha para provar que a fonte de toda a violência não era o regime racista, mas o pobre manifestante que atirou a pedra.

No Brasil, é nesse pé que estamos: a violência no campo não é resultado de injustiças históricas que fortaleceram o latifúndio, mas é causada por quem luta para reduzir essas injustiças. Não faz o menor sentido...

A violência no campo tem um nome: latifúndio. Mas isso você dificilmente vai ver na TV. A violência e a impunidade no campo podem ser traduzidas em números: mais de 1500 agricultores foram assassinados nos últimos 25 anos. Detalhe: levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT) mostra que dois terços dos homicídios no campo nem chegam a ser investigados. Mandantes (normalmente grandes fazendeiros) e seus pistoleiros permanecem impunes.

Uma coisa é certa: a reforma agrária interessa ao Brasil. Interessa a todo o povo brasileiro, aos movimentos sociais do campo, aos trabalhadores rurais e ao MST. A reforma agrária interessa também aos que se envergonham com os acampamentos de lona na beira das estradas brasileiras: ali, vive gente expulsa da terra, sem um canto para plantar - nesse país imenso e rico, mas ainda dominado pelo latifúndio.

reforma agrária interessa, ainda, a quem percebe que a violência urbana se explica – em parte – pelo deslocamento desorganizado de populações que são expulsas da terra e obrigadas a viver em condições medievais, nas periferias das grandes cidades.

Por isso, repetimos: independente de concordarmos ou não com determinadas ações daqueles que vivem anos e anos embaixo da lona preta na beira de estradas, estamos em um momento decisivo e precisamos defender a reforma agrária.

Se você é um democrata, talvez já tenha percebido que os ataques coordenados contra o MST fazem parte de uma ofensiva maior contra qualquer entidade ou cidadão que lutem por democracia e por um Brasil mais justo.

Se você pensa assim, compareça ao Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, no próximo dia 11 de março, e venha refletir com a gente:

- Por que tanto ódio contra quem pede, simplesmente, que a terra seja dividida?

- Como reagir a essa campanha infame no Congresso e na mídia?

- Como travar a batalha da comunicação, para defender a reforma agrária no Brasil?

É o convite que fazemos a você.

Assinam:

- Altamiro Borges
- Antonio Biondi
- Antonio Martins
- Bia Barbosa
- Cristina Charão
- Dênis de Moraes
- Giuseppe Cocco
- Hamilton Octavio de Souza
- Igor Fuser
- Joaquim Palhares
- João Brant
- João Franzin
- Jonas Valente
- Jorge Pereira Filho
- José Arbex Jr.
- José Augusto Camargo
- Laurindo Lalo Leal Filho
- Luiz Carlos Azenha
- Marco Aurélio Weissheimer
- Renata Mielli
- Renato Rovai
- Rita Casaro
- Rodrigo Savazoni
- Rodrigo Vianna
- Sérgio Gomes
- Vânia Alves
- Verena Glass
- Vito Giannotti

Importante: A proposta é que a rede de comunicadores em apoio à reforma agrária tenha caráter nacional. Esse evento de São Paulo é apenas o início deste processo. Promova lançamentos também em seu estado, participe e convide outros comunicadores para aderirem à rede.

domingo, 7 de março de 2010

Primeiro as damas




Como a primeira postagem é no 8 de março, Dia das Mulheres, me vi obrigado a fazer uma homenagem a elas e ao seu dia.

Celebramos o Dia Internacional das Mulheres nesta data não por outro motivo: a participação das mulheres na luta contra a opressão capitalista em geral e das mulheres em específico. Por isso, trago uma entrevista com uma liderança do movimento feminista no Brasil.

Rogeria Peixinho é Coordenadora Nacional da Articulação de Mulheres Brasileiras, integrante da Frente Nacional Contra a Criminalização da Mulheres pela Legalização do Aborto e Consultora de projetos da ASPLANDE e da rede de Mulheres Empreendedoras. Ela respondeu a algumas perguntas que lhe fiz.

Parabéns a todas as mulheres por este dia. Parabéns pelas conquistas e pela resistência. E às que foram e são presentes na minha vida, muito obrigado.

Matus: 2010 é um ano eleitoral. Pela primeira vez temos uma candidata a presidente com reais chances de vitória. Qual é a a importância disto para o movimento feminista? Quais as expectativas do movimento de gênero diante da candidatura Dilma Roussef?
Rogeria Peixinho: Hoje temos duas mulheres disputando a presidência do Brasil e é, sem dúvida alguma, um grande avanço na participação política das mulheres, mas vale ressaltar que infelizmente o Brasil ainda ocupa o 142º lugar em relação à presença de mulheres nos parlamentos, num ranking de 188 nações.
Para nós feministas será sem dúvida a inauguração de “novos” tempos se uma delas vir a ser eleita, mas destacamos que o mais importante é a política que essa mulher presidenta venha implementar, pois não basta ser mulher, tem que ter uma visão feminista e defender a igualdade e equidade entre os gêneros.

M: Em que pé estão e como o movimento feminista vem se organizando sobre o aborto e as principais questões que envolvem a mulher?
RP: Nos dias 5 e 6 de dezembro de 2009, em SP, aconteceu a Assembléia Nacional da Frente Nacional pelo fim da criminalização das mulheres pela legalização do aborto. Contamos com a presença de cerca de 150 participantes representando organizações e movimentos nacionais e organizações de 14 estados do país.
Uma CPI sobre o aborto clandestino pode ser instalada a qualquer momento no Congresso Nacional – o que só contribuirá para maior criminalização das mulheres, atingindo especialmente as mulheres da classe trabalhadora, em especial, as mais pobres e vulneráveis, grupo no qual se encontra grande parte da população afro descendente.
A bancada feminina está unida contra a CPI do aborto, mas não vai além disto. O Parlamento reflete a correlação de forças na sociedade. Esta correlação de forças só vai mudar com mobilização e debate na sociedade.
Queremos deixar evidente que a disputa de projeto de sociedade é o pano de fundo da luta pelo direito ao aborto. Nossa questão é demonstrar o que significa legalizar o aborto para um projeto político democrático e popular. E demonstrar o que significa a criminalização das lutas sociais pelos conservadores e qual sua relação com a criminalização das mulheres e dos/as que defendem a legalização do aborto.

M: Qual é o balancete que você faz sobre as lutas que envolvem as mulheres no Brasil desde a redemocratização?
RP: A década de setenta constituiu um marco para o movimento de mulheres no Brasil, com suas vertentes de movimento feminista.
Eu destaco a criação dos Conselhos dos Direitos da Mulher, das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, de programas específicos de Saúde integral e de prevenção e atendimento às vítimas de Violência Sexual e Doméstica, como grande avanços.
Também nesta década, consolidam-se novas formas de estruturação e de mobilização, embasadas na criação de redes/ articulações setoriais, regionais e nacionais, a exemplo da Articulação de Mulheres Brasileiras – AMB, da Rede Nacional Feminista de Saúde e Direitos Reprodutivos – RedeSaúde e de articulações de trabalhadoras rurais e urbanas, pesquisadoras, religiosas, negras, lésbicas, entre outras.

M: A lei Maria de Penha é uma conquista emblemática no que toca os direitos das mulheres nos últimos anos. que outras conquistas podemos citar?
RP: A Lei Maria da Penha é mesmo uma das grandes conquistas do movimento feminista brasileiro nos últimos anos, mas, infelizmente encontra-se ameaçada.
Podemos citar também a criação pelo governo Lula da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) que era uma reivindicação histórica do movimento feminista brasileiro. Com a criação da secretaria nacional, diversos estados e municípios criaram organismos de defesa dos direitos das mulheres, mas, ainda temos muito para conquistar como recursos nos orçamentos (nacional, estaduais e municipais) para efetivação dessas políticas para mulheres.

M: Como você vê a questão da guarda compartilhada?
RP: Acho bem interessante pois, divide a responsabilidade da criação dos filhos, que historicamente sempre ficou com as mulheres.